terça-feira, 18 de setembro de 2007

Critérios de noticiabilidade distorcem a realidade de bairros que recebem cobertura da imprensa diária

Artigo publicado na Revista Famecos (PUCRS)


Dra. Beatriz Dornelles (PUCRS)
Sandra Modena (PUCRS)

RESUMO

Este trabalho trata das representações possíveis por parte dos cidadãos em relação a um determinado bairro, no qual residem, formadas a partir da leitura de um jornal popular diário, o Diário Gaúcho, e pela leitura de um jornal de bairro, que conta com a participação dos moradores da mesma localidade, o Noticiário. A metodologia parte da Teoria da Representação Social (MOSCOVICI), tendo como técnicas de análise de conteúdo a pesquisa quantitativa e qualitativa, entrevistas, objetivando o levantamento da realidade do local a partir da leitura das edições do Diário Gaúcho de 10 a 17 de janeiro, fevereiro, março e abril de 2006 e as edições de janeiro, fevereiro e abril do jornal de bairro mensal - O Noticiário.

Palavras-chave:
Jornal de bairro - Diário Gaúcho - Notícia



A partir de um estudo de caso, tendo como objetos um jornal diário dirigido para as camadas populares de Porto Alegre e um jornal comunitário de bairro, da mesma cidade, analisamos os critérios de noticiabilidade dos periódicos, e verificamos como eles contribuem para a formação de opinião do bairro Restinga, um dos maiores de Porto Alegre. Os jornais selecionados foram o Diário Gaúcho, de propriedade da Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS), e O Noticiário, jornal de bairro comunitário que circula na Restinga. Nosso objetivo é analisar a imagem construída pelo Diário Gaúcho e O Noticiário, com relação ao local, verificando como o bairro figura nas páginas dos jornais selecionados.
A amostra utilizada contém edições do Diário Gaúcho de 10 a 17 de janeiro, fevereiro, março e abril de 2006 e as edições de janeiro, fevereiro e abril do jornal de bairro mensal - O Noticiário. A edição de março não foi incluída porque não circulou.
As entrevistas foram feitas com diretores e/ou editores-chefes de ambos os jornais e com um grupo de moradores do bairro, escolhidos aleatoriamente. No Diário Gaúcho foram objeto de análise as notícias e as reportagens que tratam de assuntos sobre a Restinga. No jornal O Noticiário, a análise ficou restrita aos acontecimentos do bairro. Desconsideramos notícias de outros bairros, relises da Prefeitura Municipal e colunas escritas por profissionais liberais do bairro, com enfoque publicístico.

Denominações e preconceitos
Até final dos anos 80, o bairro Restinga possuía diversas denominações: Vila Restinga Velha, Vila Nova Restinga, Restinga Nova. Sempre existiram contrastes entre a Velha e a Nova, originando, inclusive, discriminações entre os habitantes de uma e de outra que persistem até os dias atuais. A Restinga é o terceiro bairro mais populoso da Capital e carrega o estigma de violência. É mais extenso do que muitos municípios gaúchos. O transporte coletivo é insuficiente para atender a grande demanda de moradores do bairro.
O gerente distrital da Gerência de Saúde da Restinga/Extremo Sul, Thiago Pereira Duarte , informa que o bairro tem como característica marcante ser “uniformemente pobre e ter a taxa de natalidade crescente: 2,5% - mais do que o dobro da média de Porto Alegre que é de 1,2%”. Conforme pesquisa do IBGE, dos 77 bairros de Porto Alegre, a Restinga ocupa a 72ª posição em renda mensal do responsável pelo domicílio (MARIANO, 2006, p. 5).
Informações do mesmo ano mostraram que o tempo de estudo desses indivíduos ficava em torno de 6 anos e o percentual de analfabetismo é de 6%. Em cada domicílio, a média de moradores era de 3,6 pessoas. A publicação Memória dos bairros, organizada pela Prefeitura Municipal, datada de 1990, informa que, naquela época, a população da Restinga era de 150 mil habitantes. O jornal Diário Gaúcho (16/02/2006, p. 24), usando como fonte o DEMHAB, apresentou outro número: 130 mil habitantes. De qualquer forma, é um dos bairros mais populosos da Capital.
A tabela 1 permite comparar as ocorrências na área da Restinga e de Porto Alegre (capital) no período de 1º janeiro de 2006 a 31 de março de 2006:

Tabela 1 - OCORRÊNCIAS REGISTRADAS PELO 21ª BPM
Entre 1º de janeiro de 2006 a 31 de março de 2006
FATOS TOTAL DA CIDADE RESTINGA PORCENTAGEM %
Vias de fato (brigas) 1238 196 15,8
Ameaça 639 94 14,7
Perturbação da tranqüilidade ( barulho) 309 91 29,4
Perturbar alguém, o trabalho, sossego alheio (barulho à noite) 241 66 27,3
Embriaguez 78 11 14,1
Dano (prejuízos materiais) 522 53 10,1
Falso alarma ( trotes) 275 4 1,4
Lesão corporal (ferir alguém) 844 113 13,3
Furto qualificado (inclui arrombamentos e “gato” de água/luz) 1852 106 5,7
Furto (roubar /descuido/surrupiar) 1131 55 4,8
Roubo (mediante grave ameaça/assalto) 2189 39 1,7
Homicídio (matar alguém) 53 10 18,8
Violação de domicilio (invasão de residência habitada) 32 6 18,7
Seqüestro e cárcere privado (inclusive “seqüestros relâmpagos” e idosos ou doentes) 55 8 14,5
Desacato (ofensas a funcionário na sua função) 42 7 16,6
Posse de Entorpecentes (portar/consumir drogas) 286 15 5,2
Porte ilegal de arma – crime (armas recuperadas) 95 7 7,3
Captura de fugitivo (foragido do sistema presídio) 90 54 60,0
Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (atropelamento) 662 51 7,7
TOTAL 10.633 986 9,2
Fonte: Banco de dados da Brigada Militar (Análise Sgt Moacir/21ºBPM). Mensagem eletrônica enviada para o e-mail de Sandra Modena em 5 de mai 2006.


Jornais de Bairro em Porto Alegre
Para a realidade porto-alegrense, o termo “jornalismo comunitário” está diretametne associado a “jornalismo de bairro” ou “jornalismo local”. Ele representa atividades, valores e aspirações presentes na comunidade, que não são expressas na imprensa diária. Ele fornece um fluxo de notícias específicas sobre o bairro, num contexto significativo e afetivo, relatando, ainda, os acontecimentos externos que são importantes para a comunidade alvo. Caracteriza-se, também, por possuir distribuição gratuita e possuir periodicidade mensal. Não é comum a venda avulsa.
No Brasil, praticamente inexiste a imprensa comunitária, nos termos estabelecidos academicamente. Na prática, a maioria constitui um negócio que visa lucro, e, para tanto, utiliza-se das questões da comunidade como foco principal da cobertura jornalística porque isto garante número de leitores e, por conseguinte, de anunciantes. Mas existem alguns jornais de bairro que são comunitários em todos os aspectos. É o caso, por exemplo, do jornal Fala Sério, já no seu segundo ano, feito pelos moradores do Morro da Cruz e pelos integrantes do Centro de Produção de Eventos e o Nós na Fita, que também pertence aos moradores do Morro da Cruz (um dos mais perigosos da cidade em termos de tráfico de drogas e outros crimes).
A indefinição da receita mensal e o conseqüente comprometimento dos recursos financeiros fazem com que a distribuição dos jornais de bairro não seja realizada de maneira adequada. Eles são expostos basicamente em pontos comerciais, o que prejudica o maior envolvimento e participação dos leitores na política editorial. Com tantas peculiaridades, os jornais de bairro exercem uma função específica como porta-vozes do núcleo comunitário a que se destinam. Atuando e defendendo a região, desenvolve um potencial de grande importância na mobilização dos moradores em torno de questões locais. Auxilia na fiscalização e manutenção da região enquanto núcleo de determinada classe sócio-econômica.
O bairro também é “notícia” através de matérias que narram episódios de sua história. Mantendo e mostrando as tradições locais, o jornal de bairro pode contribuir para uma construtiva identidade local, além de unir a comunidade para a conquista de um determinado objetivo. Também pode servir de instrumento de valorização da auto-estima dos habitantes dos bairros humildes, combatendo estereótipos pejorativos, como de violência e pobreza.

Jornal de bairro “O NOTICIÁRIO”
Os moradores da Restinga entendem que merecem ser notícia em outras seções dos jornais que não a policial (grifo nosso). A recorrente exposição de episódios que depõem contra a imagem do bairro constrói a representação social da Restinga na mente dos indivíduos residentes em outros pontos de Porto Alegre e do interior do Estado. O Noticiário circula mensalmente há quatro anos no bairro. Costuma mencionar, no seu editorial, a importância de um veículo comunitário no sentido de resgatar a imagem da Restinga.
O diretor d’O Noticiário, Fabio Henrique dos Santos, afirma na edição de abril de 2005 que é importante para a comunidade a existência de um jornal forte. “Este é o nosso objetivo. Iremos lutar sempre por esse povo e queremos ser a voz de cada um quando clamarem pelos seus direitos e desfazer o que foi semeado nesse lugar quando dizem ser um bairro perigoso, o que todos nós sabemos que não é verdade”. (SANTOS, abr. 2005, p. 2).
O Noticiário foi fundado em 29 de agosto de 2003 pelos moradores Carlos José Oliveira, fotógrafo amador e Fabio Henrique dos Santos, comerciante. Idealizado pelo primeiro, surgiu a partir da publicação de um guia comercial organizado pelo segundo. Constavam, além de publicidade do comércio dos patrocinadores, dicas de beleza, saúde e horários das linhas de ônibus que atendem ao bairro. O Noticiário começou a circular em agosto de 2003. Além dos colaboradores, outros colunistas, advogados, conselheiros tutelares, farmacêutico, veterinário, moradores e comerciantes do bairro escrevem com regularidade. O Noticiário tem ainda um diagramador, que também faz a criação e a finalização do jornal, além de um responsável pela cobrança. A linguagem utilizada é bastante simples.
O tablóide circula com 12 páginas, quatro cores (na capa, contra-capa e página central). A tiragem é de cinco mil exemplares (o que é muito pouco, tendo como referência os 150 mil moradores do bairro), sendo distribuída gratuitamente à comunidade. O jornal tem cerca de 20 anunciantes fixos e 15 eventuais. Há um equilíbrio entre receita e despesa que são de baixos valores, indicando a dificuldade para se viabilizar o jornal do bairro. A receita do jornal está em torno de R$ 2.100,00 e a despesa em R$ 1.716,00 . A sala ocupada pela redação do impresso pertence à Associação dos Moradores da Vila Restinga (AMOVIR), que também disponibiliza o carro para a distribuição do jornal.
A comunidade participa sugerindo pautas. E se queixa quando não encontra o jornal nos pontos de distribuição . Os fatos violentos não são divulgados. O diretor explica que está procurando a melhor forma de divulgar o setor de Polícia, sem que os produtores do jornal corram risco de vida.
Além das matérias policiais, também está na preferência do leitor o “denuncismo”. O periódico dá destaque a fatos que envolvem confusão.
Denúncia é o que eles [leitores] mais gostam. No início o jornal era muito ‘light’. Quando nós começamos a mudar [o estilo do jornal], eu percebi que a repercussão aumentou. O corre-corre atrás do jornal foi maior. Tinha pessoas que iam até o escritório buscar ou alguma associação que pedia para distribuir. Aí eu mudei a tática, comecei a buscar mais confusão, mais rolo, porque vi que o jornal ia funcionar melhor. (Ibid.)

O jornal Diário Gaúcho
O Diário Gaúcho pertence à Rede Brasil Sul – RBS. O compromisso da empresa gaúcha de comunicação é “a percepção e expressão dos sentimentos e necessidades da comunidade onde atua”, divulgando e promovendo a produção de conteúdos culturais artísticos, educativos e informativos, conforme consta no site da empresa. Apesar da forte estrutura do conglomerado, a RBS não vacilou em tentar conquistar mais audiência. Havia uma expressiva parcela de indivíduos potencialmente leitores que não tinham o hábito da leitura jornalística, cerca de 50% da população de Porto Alegre.
De acordo com o primeiro editor-chefe do Diário Gaúcho, Cyro Silveira Martins Filho (2002), uma pesquisa verificou o que faltava nos impressos tradicionais para atrair esses sujeitos, A partir de então, foi criado um “produto adequado para esse público”, com um valor acessível e que agregasse promoções para estimular essas pessoas a “experimentar o jornal” e se tornarem leitores (idem, 2002).
Assim, em 17 de abril de 2000, foi lançado o Diário Gaúcho, um fenômeno editorial, como contabiliza o atual editor-chefe do veículo, Alexandre Bach :
Os dados do IVC [Índice Verificador de Circulação], última pesquisa [da empresa Estudos] MARPLAN / Instituto de São Paulo, que mede esse índice, mostram que hoje o DG está com um milhão, cento e sessenta e cinco mil leitores. [...]. Isso significa 61% dos leitores da região metropolitana, de cada dez leitores, seis lêem o Diário Gaúcho.
[...] o nosso IVC fechou o ano de 2005 com uma média de 152 mil jornais dia/vendido.Em nossos piores momentos, vendemos 110 mil jornais por dia. Já chegamos a vender [...] 230 mil em um dia (2006).

O jornal circula de segunda a sábado, sendo vendido por R$ 0,60. O impresso tem formato tablóide, quatro cores (predominantemente a verde, característica do jornal). O número de páginas varia entre 24 a 32, de acordo com a centimetragem de anúncios. Bach explica que, quando há classificados, o “Classidiário”, que circula nas edições de quartas, sextas e sábados, fica em torno de 40 a 44, tendo alcançado até 52 páginas (2006). Além do esporte, outras três seções são preferidas pelos leitores: polícia, entretenimento e serviço.
Martins Filho (2002) conta que, de acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Estudos MARPLAN, Porto Alegre alcançou o índice de aproximadamente 80% de leitores de jornal após o lançamento do DG. Antes, a capital com maior número era o Rio de Janeiro, com 65%. “Com a entrada do Diário Gaúcho, a região da grande Porto Alegre foi ‘catapultada’ [...] no índice de leitura. É a região, no Brasil, onde mais se lê jornal [...] isso é um dado histórico”.
A editoria de Polícia e as muitas fotografias de mulheres seminuas ou quase na capa e nas páginas internas provocam debates polêmicos, que questionam a qualidade editorial do impresso. Trabalham no DG 40 jornalistas. Martins Filho (2002) conta que há uma grande participação dos leitores por telefone, seja para opinar ou sugerir reportagem (BACH, 2006). Destinado às classes populares, o DG é bastante lido no bairro Restinga. Não raro, os acontecimentos da localidade são veiculados no jornal, muitos na seção policial.

A Restinga divulgada por O Noticiário e pelo Diário Gaúcho
Com uma análise das amostras de três edições do jornal mensal de bairro O Noticiário e de 32 exemplares do jornal Diário Gaúcho identificamos as expressões usadas nas referências à Restinga e quais os critérios de noticiabilidade utilizados pelos newsmakers. No primeiro periódico, a análise ficou restrita aos acontecimentos do bairro, especialmente as noticiadas na capa, através de manchetes.
Com relação ao Diário Gaúcho, foi objeto de estudo todas as notícias e/ou reportagens, além das legendas das fotografias que mencionem a Restinga, mesmo que o foco principal do texto não fosse o bairro. Tabulamos todas as edições que foram objeto de análise em ambos os jornais e selecionamos as palavras e/ou expressões que poderiam adjetivar, caracterizar ou representar o bairro e seus moradores. As edições em que não houve nenhuma ocorrência foram descartadas.

O Noticiário
Foram analisados 17 textos das três edições do jornal de bairro O Noticiário. O impresso apresenta informações que indicam ser a Restinga um bairro onde ocorrem fraudes, denúncias, depredações ao patrimônio local, protestos de pessoas descontentes com a falta de serviços básicos. É possível perceber que existem disputas pessoais e de grupos que competem por lideranças em entidades. Constatamos que nem sempre o jornal apresenta as diversas versões dos envolvidos em fatos polêmicos.
Há carências e lutas para melhorar a qualidade de vida no bairro. Entidades e voluntários preocupam-se com a solidariedade, buscam melhorias para seus moradores, através da veiculação de informações pró-segurança. Organizam festas beneficentes para as crianças e incentivam doações aos trabalhos assistenciais reconhecidos. Nas páginas de O Noticiário, a Restinga é um lugar de muitas carências, onde moram cidadãos que buscam reconhecimento da comunidade local, mas principalmente, da população de Porto Alegre.


Diário Gaúcho
A leitura dos exemplares do Diário Gaúcho permite constatar grande incidência de notícias sobre violência no bairro Restinga. Através das expressões utilizadas nos textos do impresso, é possível concluir que o local é foco de homicídios, agressões físicas, ameaças, invasões e expulsões residenciais, medo, tráfico de drogas. Também se observa que se trata de um bairro carente e que entidades dispostas a investir em projetos sociais, cursos gratuitos, creches comunitárias.
As palavras e/ou expressões mais freqüentes no período analisado possuem co-relações de sentidos nos textos estudados do Diário Gaúcho: Vândalos; terror/aterrorizando; tiros/disparos/revólver (es); traficantes/tráfico/drogas;destruição/violência;crimes/criminalida-de/assaltantes; morador prefere não se identificar/ameaçado /ameaças; cursos/aulas gratuitas.
Considerando as palavras encontradas com mais insistência nas notícias do Diário Gaúcho sobre a Restinga, podemos intuir que a representação social do bairro é de ser um lugar muito perigoso, onde residem vândalos, assaltantes, criminosos. Por fim, uma área sem lei, carente em todos os sentidos, principalmente de justiça e de respeito à pessoa humana.
Submetemos “palavras/expressões” analisadas nos jornais O Noticiário e Diário Gaúcho a uma residente do bairro há 18 anos . Ocultamos o termo “Restinga” e perguntamos quais as impressões colhidas a partir da leitura das expressões tabuladas. Primeiramente apresentamos frases com significados pessimistas.
A resposta foi a de que o local em questão tratava-se de “um verdadeiro inferno, uma terra sem lei” [sic]. Também julgou que as pessoas referidas, especialmente na tabela do jornal de bairro, eram “muito mal educadas, não respeitam as suas próprias coisas”. Sem saber que as frases se referiam ao local onde mora, atribuiu as caracterizações ao Rio de Janeiro. A cidade freqüentemente figura nos meios de comunicação devido à criminalidade, especialmente às disputas entre traficantes de drogas. Em seguida, mostramos as expressões favoráveis, e a resposta foi: “é um lugar melhor do que o primeiro” (MACHADO, 2006). Esclarecemos, então, que as referências eram para o mesmo local. A conclusão foi a de que

[...] então é um lugar marginalizado e as pessoas estão interessadas em melhorar a sua realidade. Dá para ver que, apesar das coisas ruins, também existem as boas, apesar de serem em menor quantidade. Tem gente de dentro e de fora [moradores e não-moradores] querendo ajudar esse lugar (idem, 2006).

Outras considerações
Enquanto o veículo da RBS aumenta sua penetração no bairro noticiando sobretudo os fatos mais extremos como assassinatos, tráfico de drogas e vandalismo, o jornal local prefere abrir espaço para suas promoções. Alega que procura resgatar a auto-estima dos moradores e assim deixa de publicar as notícias sobre os crimes que se registram no bairro.
É compreensível a omissão de fatos violentos do bairro nas páginas d’O Noticiário, pois é uma prática usual na cobertura dos demais jornais de bairro, afinal
[...] a imprensa de bairro passa uma imagem de que o local de moradia de seus leitores é um lugar tranqüilo e seguro e toda a violência da vida da cidade só é transmitida pelos outros veículos de informação [grifo nosso]. É nesse ponto que surge a complementaridade da imprensa de bairro. Ela atua dentro de uma linha editorial muito próxima da propaganda com a portadora de boas notícias (PROENÇA, 1984, p. 70).

No entanto, a omissão dos fatos violentos das páginas do periódico de bairro, não é a solução, pois ignorar a existência não modificará a realidade social que os origina. É fundamental procurar a melhor forma para abordar questões como droga e violência e estimular um olhar bastante crítico sobre esses assuntos, aproveitando a proximidade do veículo com os moradores. É preciso instigar e contextualizar esses temas, presentes em qualquer comunidade, seja periférica ou não. Violência e drogas na Restinga são assuntos bastante explorados pelos jornais comerciais.
Verificamos que O Noticiário, apesar de divulgar fatos positivos do bairro, estimular a solidariedade e organizar eventos de integração da comunidade, ainda está longe de cumprir seu papel de valorização e conhecimento do bairro. Entendemos que é desperdiçado um espaço valioso nas páginas com a divulgação de rixas locais e com autopromoção do diretor do jornal. Constatamos, ainda, que o jornal de bairro pode ser uma forma eficiente de educação popular. Isso pode ser feito através de informações para a prevenção de doenças, de consumo de entorpecentes, campanhas para planejamento familiar ou valorização de talentos artísticos ou desportivos locais. Tais veiculações poderiam contribuir

[...] para a elevação da auto-estima, a reconstrução da cidadania e o desenvolvimento de um olhar crítico por parte das pessoas envolvidas na sua produção e também dos demais integrantes da comunidade no qual o veiculo de comunicação está inserido[...]
Ao verem a vila retratada fora das páginas policiais dos jornais, os moradores não só aprovam a iniciativa, como começam a participar dela, por meio da sugestão de pautas, publicação de anúncios e até mesmo de apoio material. (CARNICEL apud DIMENSTEIN) .

Enfim, observamos que o jornal O Noticiário é, de certa forma, omisso quanto a expressões que possam representar a Restinga, tanto em aspectos construtivos quanto depreciativos. A existência inegável deste último é merecedor de campanhas de conscientização local de melhorias para a comunidade. São poucos os textos que realmente abordam ou caracterizam o bairro. Oferecer idéias e valores que ajudem a população a superar suas dificuldades. Auxiliá-la a exercer e lutar pela sua cidadania de fato. Valer-se da proximidade com os residentes para alcançá-los, antes e após a impressão. Ouvi-los e estimular uma participação mais efetiva no veículo comunitário. O contato prévio à produção do jornal é imprescindível para a decisão conjunta do que será veiculado, sem esquecer que o periódico, depois de pronto, deve chegar à maioria das residências, o que não acontece.
O jornal Diário Gaúcho apresenta muitas expressões que podem caracterizar a Restinga. Assim, concluímos que a representação construída pelo Diário Gaúcho mostra que a Restinga é um local de ações de vandalismo, terror, tiros, tráfico de drogas, destruição, crimes, assaltos, ameaças, moradores com medo de se identificarem. Também se observa que é um bairro carente de recursos de saúde pública, aperfeiçoamento e para onde são destinados projetos sociais, cursos gratuitos, creches comunitárias. Sobre a presença constante de informações policiais na Restinga nas páginas do Diário Gaúcho, o editor-chefe explica que não é possível mudar a realidade do bairro.
O proprietário do jornal de bairro, Fabio Henrique dos Santos, criticou as muitas informações sobre a violência na Restinga, veiculadas no DG. “Nós sabemos que esses acontecimentos são em grupos isolados. Quem mora no bairro sabe que ninguém sai na rua matando qualquer um. É isso que eles transparecem. Eu procuro nem ler o DG” (2006). No seu entendimento, os textos do jornal popular da RBS exageram. “Não é tanto assim. Eles fazem um estardalhaço [sic]. Talvez porque gera leitores, tanto é que os leitores daqui também estão pedindo que a gente faça isso. As pessoas gostam de ler isso, é incrível. Quando morre alguém na Restinga, geralmente as pessoas querem ver o nome e confirmar se era seu conhecido, se tem foto divulgada. Por isso a gente tenta diferenciar, mostrar o lado bom do bairro. Tem um senhor que veio de Uruguaiana e abriu uma loja de autopeças aqui no bairro. Ele me disse que a Restinga não é nada do que falam lá fora. Ele gostou das pessoas, do lugar [...] (SANTOS, 2006)
Ciente da insatisfação dos restinguenses, Bach justifica a abordagem do DG, afirmando que o sentido também é de cobrar do poder público que faça alguma coisa para mudar aquele quadro. Eu acho errado olhar só para um lado, olhar para a Restinga e ver só as mortes, só as coisas ruins. Mas freqüentemente nós temos ido lá fazer coisas legais [...]. Nós sabemos que as pessoas que trabalham e vivem lá constroem coisas legais (2006).
A “realidade” do bairro, mostrada pelo Diário Gaúcho, no nosso entender, é absolutamente simplista, e nenhuma reportagem discute a fundo a problemática da violência, argumenta Ronchetti (2003, p. 88). Na mesma obra, Celso Schöreder assinala o desserviço desta abordagem. Há a “estigmatização da violência e da droga como elementos isolados e autônomos, aparentemente sem nexo com a sociedade que os produz e com a elite que os utiliza” (SCHÖREDER, 2003, p. 10).
Acreditamos que “as universidades deveriam ter mais interesse por esse segmento da imprensa, estudar a comunicação de bairro.” Com a colaboração dos estudantes de jornalismo, imaginamos que esses periódicos teriam melhor apresentação e o conseqüente reconhecimento da comunidade em que está inserido.
Guareschi lembra que “não podemos ser cegos, surdos e mudos socialmente falando” e que todo ator social possui uma responsabilidade ética, especialmente no que diz respeito à comunicação. “O papel da universidade na sociedade é mostrar que ela é o local onde se reflete a dimensão humanista e crítica as instituições onde se deve, por obrigação, desenvolver a pesquisa científica” (2003, p. 11-12). Reforça que “a universidade é o local onde a sociedade pode cultivar a mais lúcida consciência de si própria para procurar a verdade [...]”.
Por fim, reforça que as funções essenciais da universidade seriam, essencialmente: a) investigação, pois a verdade só é acessível a quem a procura sistematicamente; b) ser um centro de cultura com a finalidade de educar o ser humano no seu todo; o âmbito da verdade é maior que o da ciência; c) o ensino, como a possibilidade de transmitir a verdade (JASPERS, apud GUARECHI, 2003, p. 13).
No 2º Seminário de Comunicação e Mídia Popular da Restinga , foi debatida a democratização dos meios de comunicação, através das mídias comunitárias. Guareschi reforçou que de nada adiantaria democratizar as mídias se o conteúdo veiculado não seguisse o mesmo destino. Os meios de comunicação são concedidos pelo governo, porém, a comunicação [...] deve ser repartida entre todos os cidadãos. Determinado fato passa a existir ou deixar de existir se for ou não veiculado. A comunicação [midiática], além de construir a realidade, o faz com valores. [...] Valor é aquele aspecto ético que nos leva a fazer alguma coisa ou o deixar de fazer. É impressionante o jeito como eles [a mídia] passam esses valores. Eles fazem a agenda dos assuntos discutidos. Mas é importante pensar no que a mídia deixou de colocar, ‘a agenda negativa’: o que não foi dito pode ser o mais importante. A mídia nos ‘faz’, nos constrói (GUARESCHI, 2006).
Democratizar a comunicação é assunto muito sério. É democratizar aquilo que é “o bem central da sociedade. Todo o cidadão deve ter a possibilidade de participar dessa comunicação, para poder construir e mostrar a criação da sua realidade com valores” (Ibid.). A cidadania não existe sem que todos possam expressar sua palavra. E os jornais de bairro devem aproveitar esse espaço para mostrar, da maneira mais abrangente possível, a comunidade a que pertencem, pois isso não é feito pelos jornais com fins lucrativos.

Referências

DORNELLES, Beatriz Corrêa Pires. Jornalismo "comunitário" em cidades do interior: uma radiografia das empresas jornalísticas: administração, comercialização, edição e opinião dos leitores. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2004.
___________. Imprensa Comunitária: Jornais de Bairro de Porto Alegre. In: HAUSSEN, Doris Fagundes (ORG). Mídia, imagem e cultura. [s.l.]: EDIPUCRS, 2000. p. 103-126.
GUARESCHI, Pedrinho; BIZ, Osvaldo (Orgs.). Diário Gaúcho: que discurso, que responsabilidade social? Porto Alegre: Evangraf, 2003.
GUARESCHI, Pedrinho et. All. Os construtores da informação: Meios de Comunicação, Ideologia e Ética. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
MELO, José Marques de. Estudos de Jornalismo Comparado. São Paulo: Biblioteca Pioneira de Arte e Comunicação/livraria Pioneira Editora, 1972.
PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. Jornalismo comunitário. São Paulo: Contexto, 2005. p.185-8.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Os Jornais de Bairro na cidade de São Paulo. São Paulo: [s.e.], 2003.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Memória dos Bairros: Restinga. Porto Alegre: [s.e.], 1990.
PROENÇA, Jose Luiz. Contribuição para o estudo do jornal de bairro como elemento de integração das comunidades na metrópole. São Paulo: USP, 1984. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicação e Artes da universidade de São Paulo. Universidade de São Paulo, 1984.
RONCHETTI, Gustavo. Mídia, violência e Sistema Penal: o Caso do Jornal Diário Gaúcho. In GUARESCHI, Pedrinho; BIZ, Osvaldo (Orgs.). Diário Gaúcho: que Discurso, que Responsabilidade Social? Porto Alegre: Evangraf, 2003.
RÜDIGER, Francisco. Tendências do jornalismo. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 1993.
SCHÖREDER, Celso Augusto. O sensacionalismo envergonhado. In GUARESCHI, Pedrinho; BIZ, Osvaldo (Orgs.). Diário Gaúcho: que Discurso, que Responsabilidade Social? Porto Alegre: Evangraf, 2003.

Entrevistas, seminários, informações verbais e gravações:

BACH, Alexandre. História do Jornal Diário Gaúcho [21 fev. 2006]. Entrevista concedida à Sandra Modena, Porto Alegre.
BANCO DE DADOS da Brigada Militar. Ocorrências Registradas na Restinga. Análise Sgt Moacir do 21ºBPM, 05 mai. 2006. Entrevista concedida à Sandra Modena.
BIBLIOTECA DO IBGE. População de Porto Alegre nos anos 1940 e 1950. Porto Alegre, 03 mai. 2006. Informação verbal concedida às autoras.
CARVALHO, Tatiana Machado. Morar na Restinga. Porto Alegre, 26 abr. 2006. Aspectos do Bairro. Informação verbal concedida às autoras.
CENTRO Administrativo Regional Restinga. Informação sobre candidatura Pingo Vilar. Porto Alegre, 03 mai. 2006. Informação verbal concedida às autoras.
DUARTE, Thiago Pereira. Saúde na Restinga, Porto Alegre, Gerência Distrital de Saúde, 03 mai. 2005. Entrevista concedida às autoras.
GIASSON, Inez. Morar na Restinga. Porto Alegre, 26 abr. 2006. Aspectos do Bairro. Entrevista concedida às autoras.
GUARESCHI, Pedrinho. (informação verbal) 2º Seminário de Comunicação e Mídia Popular da Restinga. Porto Alegre, 27 mai. 2006. Fórum de Educação da Restinga e Extremo Sul – FERES.
GUEDES, Denílson. Morar na Restinga. Porto Alegre, 26 abr. 2006. Aspectos do Bairro. Entrevista concedida às autoras.
JORNAIS DE PORTO ALEGRE: A GUERRA DIÁRIA. Cyro S. Martins Filho. Pós-Graduação em Comunicação. Porto Alegre, 2002. 1 Fita, 60 min., col., VHS. FITA DE VÍDEO.
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IMPRENSA COMUNITÁRIA: JORNAIS DE BAIRRO DE PORTO ALEGRE

A “imprensa comunitária” já é estudada nos Estados Unidos há, pelo menos, 50 anos. No Brasil, há poucos pesquisadores voltados sistematicamente para este setor, por isso temos grande dificuldade para encontrar bilbiografia adequada. No entanto, o fênomeno americano apresenta muitas semelhanças com o brasileiro. Nesse estudo, propomo-nos a estabelecer as características de um dos segmentos da imprensa comunitária – os jornais de bairro de Porto Alegre, valendo-nos da bibliografia norte-americana, especialmente a tratada por JANOWITZ .
Segundo o sociólogo norte-americano, a comunidade urbana abrange um processo de comunicações e um sistema de valores. Subentende sentimentos e ligações a uma área geográfica, não importando a sua transitoriedade ou complexidade.
Em 1999, em Porto Alegre, cidade com 1,5 milhão de habitantes, havia aproximadamente 18 jornais de bairro circulando , mas nos últimos quatro anos (1995-1999) pôde-se registrar a circulação de 50 jornais do gênero. O que estará acontecendo neste setor? É a imprensa comunitária inviável na capital gaúcha?
Nos Estados Unidos verificou-se que o aumento do número de jornais e da circulação reflete maiores recursos econômicos e níveis altos de alfabetização. Além disso, a posição econômica da imprensa comunitária foi fortalecida pela renda publicitária mais adequada. Os serviços de utilidade pública, nos Estados Unidos, também passaram a amparar a imprensa comunitária. E no Rio Grande do Sul?

1.1. O BAIRRO

Várias são as definições de bairro, que vão desde a área geográfica até a delimitação por grupos de afinidade comportamental. Preferimos trabalhar com a definição de MAYOL :
“O bairro pode ser considerado como a privatização progressiva do espaço público. Trata-se de um dispositivo prático que tem por função garantir uma solução de com-tinuidade entre aquilo que é mais íntimo (o espaço privado da residência) e o que é mais desconhecido (o conjunto da cidade ou mesmo, por extensão, o resto do mundo).

O jornalista do bairro tem que cumprimentar a todos, não pode se indispor com nenhum grupo, deve manter seu código de ética impecável, deve defender todos os interesses que têm o consenso da comunidade local, mesmo que, pessoalmente, tenha posição divergente. Os moradores com prestígio e liderança do bairro esperam que o jornalista garanta-lhes a honra e a moral pública. Ataques gratuitos são inadmissíveis.
A comunidade espera que o jornalista, a qualquer momento, prestigie os que vivem no anonimato. Querem uma chance de sair no jornal, nem que seja no dia do aniversário, do casamento, do batizado, da formatura, do baile, etc.
A relação comercial do jornalista com seus anunciantes é mais sentimental do que racional. Alguns querem anunciar para “ajudar o jornalista”; outros querem utilizar o veículo para apresentar seus produtos e promoções à coletividade. A forma de pagamenteo, no entanto, é sempre afetiva. “Volta na semana que vem, pois não entrou dinheiro ainda”, dizem os anunciantes na hora do pagamento, ignorando o acerto inicial. Por outro lado, quando o jornalista está “apertado”, pode apelar para o mesmo expediente e pedir para que alguns anunciantes antecipem o pagamento do anúncio.

2.CARACTERÍSTICAS DOS JORNAIS COMUNITÁRIOS

Tendo definido alguns conceitos sobre a imprensa comunitária e sobre o bairro, passaremos para a definição do conceito, caracterísitcas e números de jornais de bairro de Porto Alegre.
Para este estudo, investigamos e localizamos 43 jornais comunitários , em circulação constante ou ocasional no ano de 1995, denominados “de bairro” por seus proprietários porque, segundo definem, “visam atender às necessidade de informação de uma população concentrada em um ou mais bairros”.
Três exemplares de cada jornal mensal, de meses alternados, foram analisados editorialmente. Os proprietários foram entrevistados, objetivando o levantamento de dados administrativos.
Várias características encontradas, expostas a seguir, demonstram que muitos dos jornais de bairro não praticam adequadamente o “jornalismo comunitário”, basicamente porque o conteúdo do jornal exclui o dia-a-dia e os conflitos da comunidade alvo. A maioria dos jornais de bairro encontrados é clandestina, por não possuir registro no Cartório de Registros Especiais, conforme determina a Lei de Imprensa. Outro desvio legal é a inexistência de jornalista responsável pela publicação, segundo determina a Regulametnação da Profissão de Jornalista. Mais de 50% dos jornais são produzidos por amadores.
Neste estudo, entendemos como “jornal comunitário” aquele que representa uma grande série de atividades, valores e aspirações presentes na comunidade e que não são expressas na imprensa diária. Ele fornece um fluxo de notícias específicas para ajudar na adaptação às instituições e comodidades da vida urbana e interpretar, num contexto significativo e afetivo, os acontecimentos externos que são importantes para a comunidade alvo. Caracteriza-se, também, por possuir distribuição gratuita.

2.1 Levantamento

Concomitantemente à redução do número de jornais diários em Porto Alegre e ao avanço da tecnologia, surgem jornais de bairro em todas as zonas de Porto Alegre, a ponto de circularem 43 jornais desse gênero entre 1995 e 1996, todos impressos em offset e produzidos em computador.
Destaca se que há uma maior concentração dos jornais de bairro nas zonas norte e sul de Porto Alegre. A distribuição dos 43 jornais de bairro é gratuita. Alguns são entregues para a maioria das residências do bairro, outros circulam apenas em pontos comerciais. Esses periódicos, excetuando o mais antigo deles, o Oi!, que circula no bairro Menino Deus, têm grande dificuldade para comercializar anúncios, o que ocorre especialmente junto aos pequenos e médios comerciantes do bairro. Dificilmente as agências de publicidade de Porto Alegre investem nesse segmento do jornalismo, assim como os órgãos públicos do governo estadual, que concentra suas verbas nas três maiores empresas de Porto Alegre: RBS, Caldas Júnior e Jornal do Comércio.
Essa característica provoca a centralização da disseminação das informações por três empresas, resultando no que os leitores costumam chamar de “manipulação da informação”. No entanto, entendemos que existe a “manipulação da verba publicitária”, e não da informação, disseminada por inúmeros outros veículos, porém sem grandes recursos para realizar trabalhos de grande qualidade, mas não por isso sem valor.
Quase todos os jornais de bairro funcionam na própria casa do proprietário e não têm funcionários com vínculo empregatício em nenhuma das áreas existentes em empresas jornalísticas de maior porte: administrativo, comercial, produção e circulação. Em decorrência da pequena receita dos jornais, seus proprietários, quando necessitam, contratam free-lanceres. Pela mesma razão, é grande o número de colaboradores.
Em 27 jornais de bairro (62,7%) predominam nas páginas os releases enviados por órgãos públicos municipais e estaduais e por algumas instituições que mantêm contato permanente com os jornais de bairro, através das assessorias de imprensa, como as universidades e instituições culturais, sendo raríssima a presença de reportagens e entrevistas. Os releases são aproveitados na íntegra e raras vezes funcionam como pauta. As reportagens aparecem em 28 jornais de bairro, mas não representam a principal marca do jornal. Em muitos casos elas são ocasionais.
Outra característica de grande parte dos proprietários de jornais de bairro é sonegar a receita publicitária de seus periódicos por vergonha, medo dos concorrentes, temor que a informação prejudique o jornal de alguma forma e para evitar a pressão dos colaboradores.
Também, é sabido que até 1998 praticamente todos os proprietários de jornais de bairro declaravam ter uma tiragem maior do que a verdadeira para terem maior força de negociação junto aos anunciantes . Sendo assim, na época da pesquisa, recusaram se a apresentar um comprovante da tiragem do jornal, que também não é fornecida pelas gráficas. Os jornais de bairro são impressos nas seguintes gráficas: Grande Sul, Zero Hora, Pioneiro (Caxias do Sul), Jornal do Comércio, Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul) e Corag.
A distribuição dos exemplares de quase todos os jornais de bairro é feita pessoalmente por seus proprietários, com o uso de seus veículos. Contam com a ajuda de familiares, amigos e, em vários casos, de alguns meninos, que, em média, ganham R$ 20,00 por dia de trabalho. O jornal Oi!, até 1996, era o único que possuía veículo próprio e entregadores com vínculo empregatício. A entrega domiciliar é uma política de distribuição da minoria dos jornais de bairro.
O maior problema enfrentado por todos os jornais de bairro até hoje é a comercialização. Não se encontra no mercado porto alegrense pessoas gabaritadas ou dispostas a vender anúncios para os periódicos. Alguns proprietários de jornais comunitários dizem que o problema está na impossibilidade dos jornais pagarem uma ajuda de custo para os vendedores. Os 20% de comissão oferecidos a eles não é suficiente para que levantem um salário satisfatório a suas necessidades.

2.2 Características particulares

O mais antigo jornal de bairro, sem interrupção na circulação, é o Oi!, fundado pelo jornalista Geraldo Canali, em 15 de dezembro de 1985, em formato tablóide, 20 páginas (em média), duas cores na capa e contracapa, mensal, totalmente computadorizado, impressão offset, o único com homepage na Internet , sede própria, carro, equipe de circulação, formada por seis jornaleiros que usam uniforme com a marca do jornal (camiseta e boné), equipe de publicidade e jornalistas da grande imprensa. Tiragem: 22 mil exemplares, distribuídos no bairro Menino Deus, que, conforme dados do IBGE, censo de 1996, tem uma população de 28.396 habitantes e 10.400 dormitórios particulares (Tabela com a população dos bairros porto-alegrenses por onde circulam jornais de bairro no item 2.4).
Em março de 1997, Canali vendeu o Oi! para o jornalista Hélio Gama, que implementou quatro cores na capa e contracapa do jornal e descaracterizou a linha editorial imposta pelo fundador, que praticava o jornalismo de denúncia, através da grande reportagem de temas não trabalhados pela imprensa diária. Até 1996, o espaço comercial do Oi! era comercializado a R$ 15,25 o cm/col.
Os jornais Humaitá e Cidade Norte são os mais antigos. Foram fundados em 1984, quase um ano antes do Oi!. O primeiro pela Associação dos Moradores do Bairro Humaitá, e o Cidade Norte, pelo jornalista Camilo Cerilo Simon.
O jornal Humaitá circulou até 1996, quando fechou. Tinha oito páginas, periodicidade mensal, tiragem de 5.000 exemplares, preto e branco e formato tablóide. Circulava nos bairros Humaitá, Navegantes, Vila Farrapos e São Geraldo. A distribuição era gratuita e a receita do jornal dependia totalmente da venda de publicidade. O cm/col desse periódico era comercializado a R$ 5,00 e não trabalhava com assinatura. O responsável pelo jornal era o presidente da Associação de Moradores do Bairro Humaitá, com sede na Avenida Palmira Gobbi, 883, Porto Alegre/RS. O jornal era distribuído em pontos comerciais e locais de grande concentração de moradores, como escolas e clubes.
Na zona norte de Porto Alegre, circula até hoje o Cidade Norte, fundado no dia 30 de março de 1984, pelo jornalista Camilo Cerilo Simon. Com 12 páginas, este jornal representou uma exceção no conjunto dos 43 jornais de bairro, juntamente com o jornal Zona Norte, porque ambos eram semanários (grifo da autora). Passaram a mensais em 1998 em decorrência da queda na comercialização dos anúncios.
Até 1997, dependendo da quantidade de anúncios vendidos, o Cidade Norte circulava com 16 páginas. O preço do cm/col era R$ 5,00 e o jornal era distribuído gratuitamente em pontos comerciais de alguns bairros da zona norte de Porto Alegre. Sua tiragem variava de 7 mil a 15 mil exemplares, dependendo da receita publicitária do mês. A partir de 1998 o Cidade Norte passou a circular com 8 páginas e 10 mil exemplares. O cm/col passou a ser comercializado a R$ 8,00. No entanto, não mantém regularidade em sua circulação, sendo distribuído de dois em dois meses e às vezes três meses depois da última circulação, apresentando sérias dificuldades para comercializar seu espaço.

Em 1986, surgem mais dois jornais: O Cristóvão , em circulação até hoje, e o Jardim Floresta, fechado em 1996. A Associação do Bairro Floresta é responsável pelo lançamento do jornal O Cristóvão, hoje entregue ao jornalista Mário Rocha, também presidente da instituição. Não há registro na entidade sobre a data exata de seu lançamento. Características: 12 páginas, cor na capa e contracapa, tablóide, mensal, um jornalista responsável por toda produção do jornal, venda de anúncios, impressão e distribuição. O preço do cm/col de O Cristóvão, conforme tabela de 1995, era de R$ 6,85. Hoje o mesmo espaço é comercializado a R$ 10,00. A tiragem é de 10 mil exemplares, entregues nas residências do bairro Floresta.
O jornal Jardim Floresta foi fundado pela Associação Comunitária dos Moradores do Jardim Floresta de Porto Alegre, em 1996, e fechou em 1998. Nunca contou com jornalistas para sua produção. Era um jornal modesto, bimestral, que objetivava divulgar o trabalho dos dirigentes da entidade em prol da comunidade. Sua tiragem era de 2.000 exemplares e circulava no Cristo Redentor.
O preço do cm/col era menor que R$ 1,00, pois a venda era feita a título de colaboração com a Associação. A distribuição era gratuita, formato tablóide e estava sob a responsabilidade do presidente da Associação. O Jardim Floresta era distribuído em alguns pontos comerciais e locais públicos do bairro.
Em 1987, surgem o Alto Petrópolis e o Jornalecão, ambos em circulação até hoje. O Jornalecão foi fundado em 10 de maio de 1987, por iniciativa de Gustavo Cruz da Silveira, quando tinha 11 anos de idade. Atualmente, cursa a Faculdade de Jornalismo da PUCRS.
O Jornalecão tem 16 páginas, é mensal, tiragem de 18 mil exemplares e circula na zona sul de Porto Alegre. Conta com um jornalista para produção das matérias. Este tablóide é produzido na casa do proprietário. O cm/col interno desse jornal era comercializado até 1995 a R$ 8,00. Hoje, com cor na capa e contracapa desde 1996, o mesmo espaço custa R$ 12,00. Sua impressão é feita na gráfica do jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul, pertencente ao grupo RBS.
A distribuição do Jornalecão é feita gratuitamente em pontos comerciais da zona sul e nas esquinas de ruas principais da região. Ao longo dos anos, ele também conquistou cerca de mil assinantes.
O jornal Alto Petrópolis foi criado pelo jornalista Andi Ferreira Alves. Suas características são: mensal, 8 páginas, cor na capa e contracapa, tablóide, distribuição gratuita, não trabalha com assinantes, impressão offset. A tiragem é de 3.000 exemplares, distribuídos na quase totalidade em um único condomínio da região. A cor foi introduzida no jornal em 1999. O cm/col era comercializado em 1996 a R$ 4,00. Hoje, com cor na capa e contracapa, o cm/col custa R$ 8,00.
Já Bom Fim era uma publicação quinzenal, e, de certa maneira, diferenciada das demais. Pertence à empresa Já Editores, do jornalista Elmar Bonis da Costa, também escritor de livros, que tem investido nessa área desde 1985. Atualmente circula com o nome de Já, tendo sido fundido com outros três jornais do mesmo jornalista em 1998.
O Já Bom Fim foi fundado em 1º de julho de 1985, em formato tablóide. Em março de 1996 passou para standard, oito páginas, duas cores, tiragem de 10 mil exemplares, distribuição gratuita. O jornal trabalhava com assinantes, mas também não teve sucesso com este projeto. O preço do cm/col em 1995 era de R$ 10,70.
Em julho de 1989 surgiu o CS Zona Sul, fundado por Daniel da Motta Dutra . Quinzenário, 16 páginas, tablóide, esse jornal circula em pontos comerciais de 10 bairros da zona sul, conforme declaração do proprietário fundador, em entrevista realizada pela autora em abril de 1996. A tiragem do jornal, segundo o proprietário, é de 15 mil exemplares por quinzena. A zona sul tem 61.409 moradias. Em 1996, o CS Zona Sul tinha um jornalista , distribuição gratuita. O espaço publicitário era comercializado a R$ 7,00 o cm/col.
Em 1990, surgiu A Palavra do Bairro, por iniciativa da Associação dos Moradores do Bairro São João, sob responsabilidade do presidente da entidade. No expediente do jornal, aparecia o nome do jornalista Mílton Simas Júnior, que morava em Caxias do Sul, cidade localizada na serra gaúcha, e emprestava seu nome para constar no expediente do jornal. No ano de 1997, a jornalista Nádia Leal Donini assumiu a edição do jornal, mas, a baixa comercialização, forçou o fechamento do jornal em outubro do mesmo ano. A Palavra do Bairro circulou com 12 páginas, distribuição gratuita, tablóide, tiragem de 8 mil exemplares e distribuição residencial.
Também em 1990 foram lançados os jornais 4º Distrito e Menino Deus Assamed, este fazendo concorrência com o Oi!. O 4º Distrito foi fundado por Adriano Berao Costa e deixou de circular em 1996. Este jornal não possuía número de páginas fixas. Tablóide, circulou com, no mínimo, 8 páginas e, no máximo, 20 páginas, dependendo da venda de anúncios do mês. A tiragem deste mensário totalizava 10 mil exemplares, distribuídos gratuitamente nos pontos comerciais dos bairros São Geraldo, Navegantes, Passo da Areia, Santa Maria Goretti e São João, todos na zona norte da cidade. Costa não possuía nenhum funcionário em sua empresa. Trabalhava com colaboradores.
No início de 1995, Costa fez uma experiência com seu mensário, transformando o em standard. No final daquele ano, realizou uma pesquisa com seus leitores e anunciantes, verificando que 80% desejavam que o jornal fosse tablóide. Entre os jornalistas, verificou que a proporção era inversa: 80% indicavam o standard como melhor formato. Em 1996, Costa transformou seu jornal em tablóide.
O cm/col do 4º Distrito era de R$ 8,00 e sua produção era feita por computador. Os pequenos e médios comerciantes dos cinco bairros onde circulava eram os principais anunciantes do mensário. Os cinco bairros contam com uma população de 46.107 habitantes e 16.202 moradias.
Também em 1990 surge o Menino Deus Assamed, por iniciativa da presidente da Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Menino Deus (Assamed), na época sob o comando de Geci da Silva Fioravante. Este mensário surgiu por questões políticas e fazendo concorrência ao Oi!, criado na região em 1983.
Tablóide, 8 páginas, duas cores (preto e azul), distribuição gratuita e tiragem entre 10 mil e 15 mil exemplares, o Menino Deus Assamed conta com um jornalista responsável. O cm/col negociado por este jornal em 1996 estava em torno de R$ 3,00, enquanto, no mesmo período, seu concorrente trabalhava com o cm/col da página indeterminada em R$ 15,00.
Em 1992, aparecem mais três jornais de bairro: o Cidade Baixa, na Cidade Baixa, o Destak, nos bairros da zona sul, e O Bairro, na Cidade Baixa e Santana. O primeiro, fundado por Antônio Soares e Santa Inese Soares, proprietários de uma editora de livros, sempre circulou sem a colaboração de nenhum jornalista e sendo produzido em condições precárias.
Tablóide, mensário, 12 páginas, uma cor, o Cidade Baixa, com circulação bastante irregular, era distribuído em apenas alguns pontos comerciais do bairro, especialmente nos supermercados da área, tendo uma tiragem de 2.000 exemplares. Somente uma pessoa realizava a comercialização do jornal e a receita apenas era suficiente para cobrir o custo industrial. Este jornal deixou de circular no início de 1998. O cm/col do Cidade Baixa era comercializado, em média, a R$ 5,00 a página indeterminada e, muitas vezes, também espaços na capa eram vendidos por esse valor.
O jornal Destak foi fundado por Ricardo e Lídia Bartezen, e circula mensalmente até hoje com 12 páginas, às vezes, 16 páginas, na zona sul de Porto Alegre. A tiragem do Destak passou de 3 mil exemplares para 6 mil em junho de 1999. Ele é distribuído gratuitamente em alguns pontos comerciais, não havendo entrega domiciliar.
Até junho de 1999, o Destak se autodefinia publicamente como “Informe Publicitário”. A partir dessa data, sob influência da Associação dos Jornais de Bairro de Porto Alegre, sofreu profundas modificações, havendo uma melhora significativa em sua linha editorial. Um jornalista e um editor eletrônico foram contratatos e passou a ser impresso pela Zero Hora em quatro cores na capa, contracapa e central. A comercialização era feita pelos proprietários a R$ 5,00 o cm/col.
O Bairro, atualmente fora de circulação, foi fundado por Ricardo Teixeira, com oito páginas, mensal, distribuição gratuita, 4 mil exemplares, sem jornalista na produção, uma cor, impresso no Jornal do Comércio. A comercialização do cm/col era feita a R$ 3,90. O jornal contava apenas com um colaborador e objetivava comercializar anúncios. Ocasionalmente este jornal é visto em estabelecimentos comerciais de diferentes bairros.
No ano de 1993 surgem três jornais de bairro, dois na zona norte e um no bairro Azenha. São eles: Norte Notícias, Zona Norte e Jornal Azenha. O Norte Notícias foi fundado por Daniela Peretti e Mauro Ricardo Graziadei. Tablóide, mensário, 12 páginas, circulava nos bairros Cristo Redentor, Vila Ipiranga, Jardim Itu Sabará, Passo da Areia, Jardim Lindóia, São Sebastião, Vila Floresta, Boa Vista e Três Figueiras. Deixou de circular em 1997. Sua tiragem era de 12.000 exemplares.
O Zona Norte, fundado por Luiz Fernando Gonzalez Rosa da Silva, em circulação até hoje, passou de semanário para mensário em 1999. Com 12 páginas, 7.000 exemplares de tiragem, é elaborado e comercializado pelo proprietário em sua residência. O cm/col da página indeterminada é comercializado a R$ 7,00 desde 1996. A distribuição tem periodicidade irregular e é feita, gratuitamente, em pontos comerciais das principais avenidas da zona norte.
O Azenha é de propriedade do jornalista e fundador Jodoé de Souza e circula até os dias atuais, com duas cores na capa e contracapa. Até julho de 1997, este mensário circulava com 12 páginas, formato tablóide, uma cor. A tiragem totaliza 5.000 exemplares. O Azenha, em 1995 e 1996, era comercializado a R$ 5,00 o cm/col.
Quatro novos jornais aparecem em 1994: O Farol, Jornal do Bairro, Taí Porto Alegre e Jornal do Salso. Os três últimos deixaram de circular em 1997. O Farol resisitiu até o primeiro semestre de 1999. No segundo semestre foi colocado à venda e interrompeu sua circulação.
O Farol era um mensário com 16 páginas, tablóide, tiragem de 6 mil exemplares, com circulação na Vila Assunção, Tristeza, Cavalhada, Ipanema, Belém Novo, Lami e Restinga, bairros da zona sul de Porto Alegre. Fundado por Jorge Urruth, o jornal contava com um jornalista free-lancer, impresso em duas cores na capa e contracapa (vermelho e preto) distribuição gratuita em pontos comerciais da região e entrega domiciliar no bairro Assunção. O cm/col da página indeterminada era comercializado a R$ 8,00.
O Jornal do Bairro era um mensário, fundado por João Francisco (nome profissional utilizado pelo proprietário do jornal). Era impresso em três cores, 12 páginas, formato tablóide, tiragem de 10 mil exemplares, produzido exclusivamente pelo fundador, e circulava em pontos comerciais da zona sul de Porto Alegre. O cm/col da página indeterminada era comercializado a R$ 3,00.
O Taí Porto Alegre, também com circulação na zona sul, foi fundado por Dalmiro Justo. Era um mensário com oito páginas, formato tablóide, distribuição gratuita de 3 mil exemplares em alguns pontos comerciais e domicílios da região. Justo contava com dois jornalistas colaboradores para produção do jornal. O cm/col da página indeterminada era comercializado a R$ 3,00, em média, e seu custo industrial era de R$ 850,00.
O Jornal do Salso foi criado pelo jornalista Cláudio Somacal, com quatro páginas, periodicidade mensal, formato tablóide, distribuição gratuita de cinco mil exemplares nas residências do bairro Jardim do Salso, que possui 4.387 moradores e 1.488 domicílios particulares. O jornal era comercializado a R$ 5,00 o cm/col de todas as páginas e o custo industrial (fotolito e impressão), feito na gráfica do Jornal do Comércio, era de R$ 310,00.
No ano de 1995, quando já circulavam 21 jornais de bairro, surgem mais 15 em diferentes pontos da capital gaúcha. Cláudio Somacal, que havia lançado o Jornal do Salso um ano antes, investe no gênero e funda mais quatro jornais: Jornal Partenon Centro, Jornal da Vila Jardim, Jornal Bairro J. Botânico e Jornal Petrópolis. Todos com quatro páginas, periodicidade mensal, distribuição gratuita, formato tablóide e comercializados a R$ 5,00 o cm/col. Somente continua circulando o jornal Bairro J. Botânico e, ocasionalmente, o Parteno Centro.
O Jornal Partenon Centro foi lançado com uma tiragem de 8.000 exemplares e circula no bairro Partenon, onde vivem 45.592 pessoas em 13.928 moradias. O Jornal da Vila Jardim tinha uma tiragem de 5.000 exemplares e circulava no bairro Vila Jardim. O Jornal Bairro J. Botânico circula com 5.000 exemplares no bairro Jardim Botânico.
O Jornal Petrópolis tinha uma tiragem de 6.000 exemplares e circulava no bairro Petrópolis, onde existem 35.369 moradores e 12.520 residências particulares.
No mesmo ano surge O Gazeta, fundado por Dirceu Garcia, com o propósito de circular na zona norte de Porto Alegre, constituída por 290 mil moradores. O Gazeta circulou quinzenalmente até 1997, com 12 páginas e uma tiragem de 5.000 exemplares, distribuídos em pontos comerciais da região. Antes de fechar, contou com um jornalista e um estudante da área para sua produção. O formato era tablóide e o cm/col da página indeterminada era comercializado a R$ 8,00.
O Já Moinhos, de Elmar Bonis da Costa, surge em setembro de 1995, com oito páginas, formato standard, periodicidade quinzenal e tiragem de 10 mil exemplares, distribuídos gratuitamente no bairro Moinhos de Vento, que conta com uma população de 7.629 habitantes e 2.862 moradias. A distribuição atingia bairros vizinhos. Em 1998 foi fundido com os demais jornais da empresa Já Editores.
O cm/col do Já Moinhos era comercializado a R$ 10,70 e impresso em duas cores (capa e contracapa). Para sua produção editorial contava com seis jornalistas que trabalhavam para a empresa Já Editores.
Também, no mesmo ano, surge o Rua da Praia, fundado por três jornalistas: João Carneiro, Vítor Ortiz e Celso Schöreder. Comercializado a R$ 10,00 o cm/col, o Rua da Praia, que deixou de circular em 1997, tinha formato tablóide, periodicidade mensal, impresso com quatro cores na capa e contracapa, 600 assinantes e distribuição gratuita no centro de Porto Alegre. Sua tiragem era de 7.000 exemplares.
Por iniciativa de três estudantes de comunicação Diego Silveira, Carlos Wennerichs e Carlos Zorz , em 1995 surgiu o Mundo Moinhos com 12 páginas, impresso em quatro cores na capa e contracapa, mensal, tablóide, tiragem de 10 mil exemplares, distribuídos gratuitamente no bairro Moinhos de Vento. O espaço publicitário era comercializado a R$ 7,00 o cm/col da página indeterminada. Em 1997 deixou de circular.
No mesmo ano aparecem, ainda, os jornais Folha 3, Entre Ruas, Nosso Bairro, Gazeta Moinhos Independência, Correio Leopoldinense, Boa Vizinhança e Jornal do Condo.
O Folha 3, em circulação até hoje, foi fundado pelos jornalistas Roberto Lopes Corrêa Gomes e Tânia Bampi. Com 12 páginas, duas cores (preto e verde), tablóide e mensal, o jornal circula nos bairros Três Figueiras e Chácara das Pedras. As duas áreas são compostas por 10.441 moradores e 2.937 residências particulares. A tiragem do jornal é de 8.000 exemplares, entregues pelos proprietários nos domicílios dos moradores. Hoje, o Folha 3 é impresso em quatro cores na capa, contracapa e central.
O espaço publicitário do Folha 3 era comercializado a R$ 8,91 o cm/col da página indeterminada (atualmente passou para R$ 10,00). A distribuição conta, até hoje, com a contratação de alguns meninos dos dois bairros, que recebem R$ 20,00 por dia de trabalho, mais alimentação.
Quinzenário com oito páginas, o Entre Ruas foi fundado por Sérgio Schieffer Becker e deixou de circular em 1997. Sua tiragem era de 3.000 exemplares, distribuídos gratuitamente nas residências do bairro Bela Vista, que possui 8.917 moradores e 2.966 domicílios particulares. Seu cm/col era comercializado a R$ 2,36 em páginas indeterminadas. Sua produção era feita na residência do fundador, com a participação de um colaborador.
Nosso Bairro, em circulação até hoje, é um jornal da Empresa Arcoíris Eventos, Promoções e Produções Ltda., com oito páginas, mensal, uma cor, 8.000 exemplares distribuídos em pontos comerciais e em alguns domicílios dos bairros Santana, Azenha, Cidade Baixa e Santa Cecília. O cm/col da página indeterminada era comercializado a R$ 4,00 até 1997 e a produção do jornal é feita até hoje por um jornalista. O cm/col passou em 1999 para R$ 7,00.
O mensário Gazeta Moinhos Independência foi fundado pela empresa Grão Comunicação Editora para circular nos bairros Moinhos de Vento e Independência. Três mil exemplares são distribuídos gratuitamente entre os pontos comerciais e residenciais da região.
Em 1998, passou a chamar-se Gazeta Moinhos e está em circulação até hoje. Sua tiragem atual está em torno de 5 mil exemplares. Uma jornalista é responsável pelo periódico, comercializado a R$ 9,00 o cm/col da página indeterminada. Seu formato é tablóide, impressão quatro cores (a partir do primeiro semestre de 1999), oito páginas.
O Correio Leopoldinense, fechado em 1997, era um mensário, com 12 páginas, 8.000 exemplares de tiragem , tablóide, uma cor e circulava em pontos comerciais do bairro Ruben Berta, que possui 75.779 moradores e 21.762 residências. O jornal não possuía tabela de preço, mas, em média, considerando os valores cobrados para espaços relativos a um cartão de visita, seu cm/col era comercializado a R$ 3,00.
Boa Vizinhança surgiu por iniciativa de Marcelo Kunzler, um professor de Educação Física, que buscou a colaboração de duas jornalistas para produção do mensário, que fechou em 1998. Tablóide, 12 páginas, circulou nas casas comerciais do bairro Cidade Baixa. Esse periódico também não possuía tabela de preços, mas, em média, era comercializado a R$ 4,37 o cm/col da página indeterminada. Sua tiragem era de 5.000 exemplares.
O Jornal do Condo, fechado em 1997, tinha uma proposta um pouco diferenciada dos demais jornais de bairro. Fundado por Sidney Silva Aparecido, sua distribuição era feita em alguns condomínios de Porto Alegre. Com uma tiragem de cinco mil exemplares, o Jornal do Condo era produzido mensalmente, com oito páginas, uma cor, formato tablóide e distribuído gratuitamente. O cm/col era comercializado a R$ 8,40 em páginas indeterminadas.
Em 1996, surgiram mais cinco jornais de bairro, por iniciativa de jornalistas que já haviam lançado outros periódicos do gênero. São eles: Já Cidade Baixa, Já Petrópolis, Mundo Petrópolis, Jornal Teresópolis e Jornal Vila do IAPI.
O Já Cidade Baixa e Já Petrópolis, do jornalista Elmar Bonis da Costa têm as mesmas características, sendo que o primeiro circulou no bairro Cidade Baixa, e o segundo, em Petrópolis. Antes da fusão dos quatro jornais da Já Editores, circularam quinzenalmente, por menos de um ano, com oito páginas, formato standard e distribuição gratuita em pontos comerciais dos bairros, cada um com 10 mil exemplares. A comercialização era feita a R$ 10,70 o cm/col da página indeterminada.
O mensário Mundo Petrópolis, dos estudantes de jornalismo Diego Silveira e Carlos Wennerchs, fechado em 1997, foi lançado com quatro cores na capa e contracapa, 8 páginas, formato tablóide, tiragem 10 mil exemplares, distribuídos nos domicílios e comércio do bairro Petrópolis. O cm/col da página indeterminada custava R$ 7,20.
O Jornal Teresópolis e o Jornal Vila do IAPI foram fundados, a título de experiência, pelo jornalista Cláudio Somacal, mas também não sobrevive-ram. O primeiro teve apenas uma edição, que circulou com uma tiragem de 5.000 exemplares, distribuídos no bairro Teresópolis, com uma população de 11.038 moradores.
O segundo, teve duas edições, de 3.000 exemplares cada, e circulou no bairro Passo da Areia, onde moram 21.650 pessoas em 7.672 residências particulares. Os dois jornais tinham formato tablóide, periodicidade mensal, quatro páginas e foram comercializados a R$ 5,00 o cm/col de todas as páginas.
O Jornal do Mercado foi fundado no primeiro semestre de 1997, pelo jornalista José Granato Goulart, e deixou de circular no segundo semestre de 1998. Este periódico circulou no centro de Porto Alegre, mensalmente, com 12 páginas, uma cor, 15.000 exemplares, distribuídos especialmente no Mercado Público de Porto Alegre. Contava com um jornalista formado para produção das matérias, além do fundador. O centímetro por coluna era comercializado a R$ 7,00.
A administração do jornal era feita na casa do jornalista Goulart, onde possuía telefone e fax. O centro tem uma população de 38.271 habitantes e 16.910 moradias.
Entre 1997 e 1999 surgiram, pelo menos, mais sete jornais de bairro, não incluídos nesta pesquisa. Todos mensais, distribuição gratuita, de propriedade de jornalistas, tablóides, impressos em quatro cores na capa e contracapa , em circulação até hoje. São eles: Bela Vista, Olá!Botânico, Bah!, Bah! Zona Sul, Fala, São João, Folha do Porto e Mais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jornais de bairro, analisados através de exemplares selecionados em 1996, caracterizam-se pela publicação de notícias específicas sobre as principais atividades e necessidades do bairro onde circulam, atividades promovidas pela Prefeitura de Porto Alegre, e assuntos genéricos.
Segundo o estatuto da Associação dos Jornais de Bairro de Porto Alegre, criada em dezembro de 1997, tendo atualmente onze sócios, considera-se jornal de bairro

“aquele que pratica um jornalismo comunitário, através da divulgação de matérias informativas e opinativas de interesse geral da população de um ou mais bairros da cidade. Os principais objetivos de um Jornal de Bairro são: contribuir para formação de opinião, educar, auxiliar no crescimento da qualidade de vida dos moradores do bairro, defender os interesses dos cidadãos que residem no bairro onde circula, com independência e autonomia editorial, e apoiar eventos promovidos pelas comunidades, associações de bairro, entidades, fundações e governos, entre outras entidades, quando procurados e desde que visem o bem geral da população.
Não se considera jornal de bairro os jornais segmentados, ou seja, aqueles que não dão cobertura jornalística ampla ao bairro, abordando todos os segmentos da sociedade, nem aqueles voltados para um público específico, não abrangendo a totalidade de moradores de um ou mais bairros determinados, nem aqueles que possuam periodicidade diferente da diária, trissemanária, bissemanária, semanária, quinzenária e mensal. Ficarão excluídos da entidade os jornais que circularem com mais de 50% da área útil de cada edição com anúncios, propaganda e publicidade”.

No ano de 1997, a administração de Porto Alegre deu um importante apoio econômico a esse segmento, definindo uma política de distribuição da verba publicitária que incluiu os jornais de bairro da cidade. Sob a responsabilidade do Partido dos Trabalhadores (PT), a prefeitura da capital gaúcha tem manifestado publicamente, através de seus líderes, o interesse em fortalecer os jornais não-diários da capital, de maneira a contribuir com a descentralização da notícia. Tal objetivo tem se revelado na prática, através do apoio publicitário, ainda não bem definido em termos de política de mídia definitiva, e sim ocasional. Não se sabe, por exemplo, se existem critérios jornalísticos adotados para seleção dos veículos, já que diversos jornais de bairro não recebem anúncios da Prefeitura. Por outro lado, alguns jornais que descumprem a legislação da categoria, como, por exemplo, não possuírem registro e jornalista responsável, são beneficiados com os anúncios do poder público que, inacreditavelmente, anunciam em jornais clandestinos.
São características dos jornais de bairro a indefinição do número de páginas e da tiragem, pois esses periódicos dependem, a cada mês, da verba publicitária arrecadada para definirem esses dois itens. São raros os jornais de bairro que conseguem fechar contratos publicitários por mais de três meses, o que os torna instáveis com relação a um projeto de médio e longo prazo.
O preço do cm/col de cada jornal não obedece a nenhum padrão. Os proprietários não sabem explicar por que o valor é comercializado a R$ 2,00, R$ 3,00, R$ 5,00 ou mais reais. Alguns dizem que trabalham “conforme a cara do freguês”. Outros explicam que foram obrigados a abaixar o valor porque não conseguiam comercializar a mais de R$ 5,00 o cm/col. Sabe-se, no entanto, que a maioria dos jornais não obedece o valor estipulado na tabela de preços. Trabalham com desconto e muitas permutas.
O Governo do Estado raramente investe em publicidade nesse segmento da imprensa. Ocasionalmente, dois órgãos estaduais anunciaram nos jornais de bairro em 1997: a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e a Companhia Rio-grandense de Telecomunicações (CRT).
No entanto, esse mesmo governo, através do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, da CEEE e da CRT, “por razões desconhecidas”, no ano de 1997, anunciou intensivamente em apenas um dos jornais de bairro, o Oi!, do Menino Deus, investindo, por edição, de três a quatro anúncios de página inteira.
Também em decorrência da indefinição da receita mensal, a grande maioria dos jornais de bairro não realiza a distribuição do jornal de maneira adequada. Eles circulam basicamente nos pontos comerciais dos bairros, tais como: associações, supermercados, padarias, farmácias, clubes, escolas, lojas, academias, etc.
Essa estratégia prejudica a maior participação e envolvimento dos leitores na política editorial, pois observa-se que os jornais que circulam com entrega domiciliar têm maior respaldo da comunidade. É o caso dos jornais Oi!, Folha 3 e O Cristóvão. Esta estratégia, no entanto, não impediu o fechamento de diversos jornais com distribuição residencial.
A distribuição em pontos comerciais também dificulta a identificação do perfil do leitor e da realização de pesquisa com o mesmo. Destacamos, ainda, que a quase totalidade dos jornais de bairro de Porto Alegre não circulam nos meses de janeiro e fevereiro porque, nesse período, o comércio não anuncia. Neles, boa parte da população consumidora migra para cidades litorâneas.
De maneira geral, é possível afirmar que os releases são bastante utilizados pelos jornais de bairro, destacando-se o material produzido pela Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal. Também são bastante prestigiados pelos jornais o Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço Social da Indústria (SESI), especialmente porque suas assessorias de imprensa realizam um trabalho intenso junto a este segmento.
Também recebe bastante apoio dos jornais de bairro os acontecimentos que envolvem a área cultural, especialmente a música e a literatura. Infelizmente, muitas assessorias de imprensa ainda não despertaram para essa realidade e não incluem em suas listas de divulgação os jornais de bairro. Lutam, apenas, pela publicação de seus releases na imprensa diária.
Do ponto de vista administrativo, de maneira geral esse segmento é bastante desorganizado. A maioria dos jornais não foi registrada no Cartório de Registros Especiais, como determina a lei, por desconhecimento da mesma. També é uma característica dos jornais de bairro de Porto Alegre a periodicidade irregular e o fechamento temporário de vários impressos. A atualização deste setor deve ser feita, pelo menos, a cada três meses. Nesse período muitos podem fechar, muitos podem abrir e muitos podem voltar a circular. Mudanças de endereços e telefones também são contantes e comuns .
Os Jornais de Bairro de Porto Alegre têm autonomia e independência editorial em relação ao governo do Estado e aos órgãos públicos e privados, porém não as usam por falta de condições econômicas. Ou seja, falta jornalista para realizar reportagens de peso, a exemplo do que fez o jornal Oi!, em 1995 e 1996.
A mesma independência não se observa em relação à Prefeitura de Porto Alegre. Porque sua verba publicitária está pulverizada entre cerca de 50 jornais comunitários (a maioria não é jornal de bairro), os jornais, salvo raras exceções, evitam publicar matérias que possam descontentar o Executivo Municipal. Além disso, atendem a qualquer pedido para divulgação de relises oriundos da Comunicação Social da Prefeitura.
Outra característica desse segmento é não ter êxito em campanhas de assinatura do jornal. Os leitores demonstram apreço pelas publicações, elogiam, pedem que continuem, mas, conforme pesquisa, não pagariam a assinatura do jornal para tê-lo em casa .
Todos os jornais de bairro trabalham com a entrega gratuita residencial ou em pontos comerciais e locais de alta movimentação, como praças e clubes. A quase totalidade dos proprietários não possui sede própria. A administração dos jornais e produção são feitas nas suas casas. Todos possuem computadores de última geração e utilizam os programas Page Maker, para editoração eletrônica, e o World, para produção de textos.
Vinte e um jornais foram fundados por jornalistas e 22 por pessoas que provêm de outras atividades, especialmente vendas. No total, os 43 jornais empregam 21 jornalistas como free-lanceres. Em 27 jornais, as notícias publicadas são releases de assessorias de imprensa de órgãos públicos, especialmente da Prefeitura de Porto Alegre. Vinte e oito periódicos realizam reportagens junto à comunidade onde circulam. Vinte e três jornais trabalham em cooperação com as Associações de Moradores e 20, não. Todos eles, no entanto, procuram dar destaque aos acontecimentos do bairro.
Em média, a tiragem dos jornais de bairro é de 5.126. Se não considerarmos o jornal Oi!, que distribui 22.000 exemplares, a média cai para 4.614 exemplares. Mais da metade dos jornais surgiu a partir do ano de 1995.


2.4 TABELAS

TABELA 1

FORMATO DOS JORNAIS DE BAIRRO

Nome Jornal Formato Nome Jornal Formato
Oi! Menino Deus Tablóide Jornal do Salso Tablóide
Humaitá Tablóide O Gazeta Tablóide
Cidade Norte Tablóide Já Moinhos Standard
O Cristóvão Tablóide Rua da Praia Tablóide
Jardim Floresta Tablóide Mundo Moinhos Tablóide
Alto Petrópolis Tablóide Jornal do Condo Tablóide
O Jornalecão Tablóide Correio Leopoldinense Tablóide
Já Bonfim Standard Gazeta Moinhos Independência Tablóide
CS Zona Sul Tablóide Folha 3 Tablóide
A Palavra do Bairro Tablóide Nosso Bairro Tablóide
Distrito Tablóide Entre Ruas Tablóide
Menino Deus Assamed Tablóide Jornal Partenon Centro Tablóide
Cidade Baixa Tablóide Jornal Jardim Botânico Tablóide
Destak Tablóide Jornal Petrópolis Tablóide
O Bairro Tablóide Boa Vizinhança Tablóide
Norte Notícias Tablóide Já Cidade Baixa Standard
Zona Norte Tablóide Já Petrópolis Standard
Jornal Azenha Tablóide Mundo Petrópolis Tablóide
O Farol Tablóide Jornal Teresópolis Tablóide
Jornal do Bairro Tablóide Jornal Vila do IAPI Tablóide
Taí Porto Alegre Tablóide Jornal do Mercado Tablóide


TABELA 2

CARACTERÍSTICAS GERAIS DE 43 JORNAIS DE BAIRRO


NOME DO JORNAL
PERIODICIDADE ANO FUNDAÇÃO Nº DE PÁGINAS TIRAGEM PREÇO CM/COL
(R$) - 1996
Oi! Menino Deus Mensal 1983 20 22.000 15,25
Humaitá Mensal 1984 8 5.000 5,00
Cidade Norte Semanal 1984 12 15.000 5,00
O Cristóvão Mensal 1986 8 10.000 6,85
Jardim Floresta Bimestral 1986 4 2.000 - 1,00
Alto Petrópolis Mensal 1987 12 6.000 4,00
O Jornalecão Mensal 1987 16 18.000 8,00
Já Bonfim Quinzenal 1988 8 10.000 10,70
CS Zona Sul Quinzenal 1989 16 15.000 7,00
A Palavra do Bairro Mensal 1990 12 8.000 1,30
4º Distrito Mensal 1990 12 10.000 8,00
Menino Deus Assamed Mensal 1990 8 15.000 3,00
Cidade Baixa Mensal 1992 12 2.000 5,00
Destak Mensal 1992 12 4.000 5,00
O Bairro Mensal 1992 8 4.000 3,90
Norte Notícias Mensal 1993 12 12.000 4,00
Zona Norte Semanal 1993 12 7.000 7,00
Jornal Azenha Mensal 1993 12 5.000 5,00
O Farol Mensal 1994 16 6.000 8,00
Jornal do Bairro Mensal 1994 12 10.000 3,00
Taí Porto Alegre Mensal 1994 8 3.000 3,00
Jornal do Salso Mensal 1994 4 5.000 5,00
O Gazeta Quinzenal 1995 12 5.000 8,00
Já Moinhos Quinzenal 1995 8 10.000 10,70
Rua da Praia Mensal 1995 16 7.000 10,00
Mundo Moinhos Mensal 1995 12 10.000 7,00
Jornal do Condo Mensal 1995 8 5.000 8,40
Correio Leopoldinense Mensal 1995 12 8.000 3,00
Gazeta Moinhos Independência Mensal 1995 8 3.000 9,00
Folha 3 Mensal 1995 12 8.000 8,91
Nosso Bairro Mensal 1995 8 8.000 4,00
Entre Ruas Quinzenal 1995 8 3.000 2,36
Jornal Partenon Centro Mensal 1995 8 8.000 5,00
Jornal da Vila Jardim Mensal 1995 4 5.000 5,00
Jornal Bairro J. Botânico Mensal 1995 8 5.000 5,00
Jornal Petrópolis Mensal 1995 4 6.000 5,00
Boa Vizinhança Mensal 1995 12 5.000 4,37
Já Cidade Baixa Quinzenal 1996 8 10.000 10,70
Já Petrópolis Quinzenal 1996 8 10.000 10,70
Mundo Petrópolis Mensal 1996 8 10.000 7,20
Jornal Teresópolis Mensal 1996 4 5.000 5,00
Jornal Vila do IAPI Mensal 1996 4 4.000 5,00
Jornal do Mercado Mensal 1997 12 15.000 7,00
MÉDIAS MENSAL - 10 5.126 6,17


TABELA 3

CARACTERÍSTICAS DE PRODUÇÃO

NOME DO JORNAL
PROPRIETÁRIOSOU DIRETORES COM DIPLOMA EM JORNALISMO Nº DE CONTRATADOS COMO FREE- LANCER PRODUZEM REPORTAGENS EM TODAS A EDIÇÕES PREDOMINAM NOTAS, RELISES E ARTIGOS OPINATIVOS NO JORNAL INTERAGE COM A ASSOCIAÇÃO DO BAIRRO OU COM A COMUNIDADE
Oi! Menino Deus X 3 X - X
Humaitá - - - X X
Cidade Norte X 1 - X X
O Cristóvão X - X - X
Jardim Floresta - - - X X
Alto Petrópolis X - - X X
O Jornalecão - - X - X
Já Bonfim X 3 X - X
CS Zona Sul - 3 - X -
A Palavra do Bairro - - - - X
4º Distrito - - - X X
Menino Deus Assamed - 1 X - X
Cidade Baixa - - - X -
Destak - - - X -
O Bairro - - - X -
Norte Notícias - - - X -
Zona Norte - - - X -
Jornal Azenha X - - X -
O Farol - 1 - X X
Jornal do Bairro - - - X -
Taí Porto Alegre - - - X -
Jornal do Salso X - - X -
O Gazeta - 1 - X -
Já Moinhos X 3 X - X
Rua da Praia X 3 X - X
Mundo Moinhos - - X - X
Jornal do Condo - - - X X
Correio Leopoldinense - - - X X
Gazeta Moinhos Independência - 1 - X -
Folha 3 X - X - X
Nosso Bairro X 1 - X X
Entre Ruas - - - X -
Jornal Partenon Centro X - - X -
Jornal da Vila Jardim X - - X -
Jornal Bairro J. Botânico X - - X -
Jornal Petrópolis X - - X -
Boa Vizinhança X 2 X - -
Já Cidade Baixa X 3 - - X
Já Petrópolis X 3 X - X
Mundo Petrópolis - - X - X
Jornal Teresópolis X - - X -
Jornal Vila do IAPI X - - X -
Jornal do Mercado X - X - X

TOTAL 21 JORNAIS SOB O COMANDO DE JORNALISTAS SEGMENTO EMPREGA 20 FREE- LANCERES 13 JORNAIS REALIZAM REPORTAGENSMENSAIS
EM 28 JORNAIS PREDOMINAM RELEASES, ARTIGOS E NOTAS 23 JORNAIS INTERAGEM COM OS MORADORES


TABELA 4


JORNAIS COM CIRCULAÇÃO INITERRUPTA ATÉ JULHO/1999
NOME DO JORNAL OBSERVAÇÕES
Já Fusão de quatro jornais
Oi! -
O Gazeta -
Cidade Norte Passou de semanal para mensal
O Cristóvão -
Gazeta Moinhos Independência Novo nome: Gazeta Moinhos
Alto Petrópolis -
O Jornalecão -
Folha 3 -
CS Zona Sul -
Nosso Bairro -
Jornal Bairro J. Botânico -
Destak -
Zona Norte Passou de semanal para mensal
Jornal Azenha Periodicidade irregular
TOTAL 15




TABELA 5
JORNAIS DE BAIRRO DE PORTO ALEGRE SURGIDOS NO PERÍODO DE 1983 A 1999

NOME DO JORNAL
PERIODICIDADE ANO FUNDAÇÃO Nº DE PÁGINAS TIRAGEM SITUAÇÃO ATUAL
(1999)
Oi! Mensal 1983 20 22.000 Circulando
Humaitá Mensal 1984 8 5.000 Fechado
Cidade Norte Semanal 1984 12 15.000 Circulando
O Cristóvão Mensal 1986 8 10.000 Circulando
Jardim Floresta Bimestral 1986 4 2.000 Fechado
Alto Petrópolis Mensal 1987 12 6.000 Circulando
O Jornalecão Mensal 1987 16 18.000 Circulando
Já Bom Fim Quinzenal 1988 8 10.000 Fechado
CS Zona Sul Quinzenal 1989 16 15.000 Circulando
A Palavra do Bairro Mensal 1990 12 8.000 Fechado
4º Distrito Mensal 1990 12 10.000 Fechado
Menino Deus Assamed Mensal 1990 8 15.000 Irregular
Cidade Baixa Mensal 1992 12 2.000 Fechado
Destak Mensal 1992 12 5.000 Circulando
O Bairro Mensal 1992 8 4.000 Fechado
Norte Notícias Mensal 1993 12 12.000 Fechado
Jornal Azenha Mensal 1993 12 5.000 Circulando
O Farol Mensal 1994 16 6.000 Fechado
Farol Restinga Mensal 1998 8 6.000 Fechado
Jornal do Bairro Mensal 1994 12 10.000 Fechado
Taí Porto Alegre Mensal 1994 8 3.000 Fechado
Jornal do Salso Mensal 1994 4 5.000 Fechado
O Gazeta Quinzenal 1995 12 5.000 Fechado
Já Moinhos Quinzenal 1995 8 10.000 Fechado
Rua da Praia Mensal 1995 16 7.000 Fechado
Mundo Moinhos Mensal 1995 12 10.000 Fechado
Jornal do Condo Mensal 1995 8 5.000 Fechado
Correio Leopoldinense Mensal 1995 12 8.000 Fechado
Gazeta Moinhos Mensal 1995 8 3.000 Circulando
Folha 3 Mensal 1995 12 8.000 Circulando
Nosso Bairro Mensal 1995 8 8.000 Circulando
Entre Ruas Quinzenal 1995 8 3.000 Fechado
Jornal Partenon Centro Mensal 1995 8 8.000 Irregular
Jornal da Vila Jardim Mensal 1995 4 5.000 Fechado
Jornal J. Botânico Mensal 1995 8 8.000 Circulando
Jornal Petrópolis Mensal 1995 4 6.000 Fechado
Boa Vizinhança Mensal 1995 12 5.000 Fechado
Já Cidade Baixa Quinzenal 1996 8 10.000 Fehado
Já Petrópolis Quinzenal 1996 8 10.000 Fechado
Mundo Petrópolis Mensal 1996 8 10.000 Fechado
Jornal Teresópolis Mensal 1996 4 5.000 Fechado
Jornal Vila do IAPI Mensal 1996 4 4.000 Fechado
Jornal do Mercado Mensal 1997 12 15.000 Fechado
Bah! Mensal 1998 8 15.000 Fechado
Bah! Zona Sul Mensal 1998 8 7.000 Fechado
Fala, São João Mensal 1999 8 10.000 Circulando
Bela Vista Mensal 1997 8 7.000 Circulando
Olá! Botânico Mensal 1998 8 5.000 Circulando
Mais Mensal 1999 12 3.000 Circulando
Folha do Porto Mensal 1998 8 10.000 Circulando
Já Quinzenal 1999 8 15.000 Circulando


Número total de jornais: 51

Número de jornais com circulação initerrupta: 18

Número de jornais fechados temporariamente: 31

TABELA 6



CONTAGEM POPULACIONAL – 1996 – BAIRROS DE PORTO ALEGRE ONDE CIRCULAM JORNAIS DE BAIRRO
NOME DO BAIRRO POPULAÇÃO Nº DE RESIDÊNCIAS
Anchieta 204 62
Auxiliadora 10.123 3.785
Azenha 14.457 5.371
Bela Vista 8.917 2.966
Belém Velho 6.713 1.860
Belém Novo 13.135 3.766
Bonfim 11.007 4.666
Camaquã 21.820 6.787
Cavalhada 19.522 6.171
Centro 38.271 16.910
Chácara das Pedras 6.328 1.879
Cidade Baixa 17.301 7.706
Cristal 21.222 6.463
Cristo Redentor 15.016 5.280
Espírito Santo 5.454 1.544
Farrapos 15.312 4.321
Farroupilha 1.240 456
Floresta 23.390 8.819
Glória 8.486 2.647
Guarujá 2.387 689
Higienópolis 9.419 3.394
Hípica 8.330 2.238
Humaitá 10.771 3.421
Independência 7.251 2.918
Ipanema 14.612 4.044
Jardim Botânico 11.424 3.934
Jardim do Salso 4.387 1.488
Jardim Itu-Sabará 35.334 10.603
Jardim Lindóia 7.163 2.319
Lami 3.658 1.086
Medianeira 12.192 3.875
Menino Deus 28.396 10.400
Moinhos de Vento 7.629 2.862
Mont Serrat 10.026 3.600
Navegantes 5.174 1.812
Nonoai 31.286 9.002
Partenon 45.592 13.928
Passo da Areia 21.650 7.672
Petrópolis 35.369 12.520
Praia de Belas 1.956 768
Restinga 40.490 10.509
Rio Branco 19.953 7.407
Rubem Berta 75.779 21.762
Santa Cecília 7.036 2.487
Santa Maria Goretti 4.230 1.394
Santa Teresa 41.961 11.184
Santana 21.853 8.055
Santo Antonio 14.323 4.826
São Geraldo 4.816 1.664
São João 10.237 3.660
Teresópolis 11.038 3.265
Três Figueiras 4.113 1.058
Tristeza 14.715 4.705
Vila Assunção 4.494 1.259
Vila Ipiranga 20.912 7.231
Vila Jardim 9.351 2.649
Vila Nova 31.452 9.204



BIBLIOGRAFIA


BAHIA, Juarez. Três fases da imprensa brasileira. Santos, Editora Presença, 1960.
_________. Jornal, História e Técnica. São Paulo, Ibrasa, 1972. 4ª ed. Ampliada, São Paulo, Ática, 1992.
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FERREIRA, Francisco de Paula. Teoria Social da Comunidade. São Paulo, Editora Herber, 1968.
FESTA, Regina; LINS DA SILVA, Carlos Eduardo (orgs.). Comunicação Popular e Alternativa no Brasil. São Paulo, Edições Paulinas, 1986.
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HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. São Paulo, Paz e Terra, 4ª ed., 1992.
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WANDERLEY, Mariangela Belfiore. Metamorfoses do Desenvolvimento de Comunidade. São Paulo, Editora Cortez, 1993.
WILLEMS, Emílio. Uma Vila Brasileira. São Paulo, Editora Difusão Européia do Livro, 1961.

A CIDADE DE SANTA MARIA E O JORNAL A RAZÃO

A região Central do Rio Grande do Sul é composta por 19 municípios , sendo a cidade de Santa Maria a capital da área. A história da região é muito bonita e, nas palavras de nosso imortal poeta Barbosa Lessa, diz o seguinte:
“Quando o Tratado de Madri determinou que as Missões dos Sete Povos passassem pra Portugal, logo o Brasil teve o problema de ocupá-las com gente sua, leal. Se preciso, viria gente do Reino, dos Açores, da Madeira.
O problema era chegar. Se subisse de Rio Grande pelos campos da Campanha, o português toparia com os índios missioneiros, à altura de Santa Tecla, e a esta altura em pé de guerra. Se saísse de Laguna, pelo passo do Pelotas, teria de cruzar todo o Planalto, em diagonal, até Missões; o declive era suave, rio nenhum pra atrapalhar, mas a distância era muita e, no caso de uma guerra, era difícil voltar. A solução foi achada pela Lagoa dos Patos: navegar até o Guaíba (no Porto de Viamão) e subir o Jacuí até onde pudesse dar.
Chegaram até o rio Pardo mas, aí, a guerra esquentou, com os guaranis dizendo não. Os soldados de Rio Grande se mudaram pra Rio Pardo. Houve a guerra missioneira, morreu Sepé Tiaraju, conquistaram São Miguel, mas, no final desta história, ficou o dito por não dito: eram da Espanha as Missões!
O centro do Continente ficou sediado em Rio Pardo, agora vila importante com seu quartel de Dragões. Nas terras de vizinhança, o Rei doou sesmarias pra quem quisesse estanciar (parar) e quisesse criar gado (não simplesmente caçar). E os casais de agricultores que chegaram dos Açores, deu o Rei pequenas datas, pequenas porções de terra, onde o trigo cresceu lindo e foi levado por barco a Porto Alegre dos Casais. Junto às datas, que cresciam, foram surgindo capelas: Santo Amaro... Bom Jesus... São José do Taquari. Tranqüila gente açoriana, pura cepa lusitana, devoção pelo Divino, procissão do Senhor Morto.
Tudo seria bonito se se pudesse ter paz. Mas, desde 63, com a tomada de Rio Grande pelo exército espanhol, e com a fuga do governo pra Capela de Viamão, dependia de Rio Pardo a resistência lusitana. Defender a qualquer custo as barrancas do Jacuí! Voltou-se um canhão pra o Sul: a Campanha, em mãos de Espanha, com o forte de Santa Tecla (nas imediações de Bagé). E o outro apontou pra Oeste: as Missões dos Sete Povos, com o forte de São Martinho (acima de Santa Maria).
Rafael Pinto Bandeira, e seu leal Cabo Duro, foram os heróis da guerrilha. Talaram a Zona-Sul até o rio Jaguarão. Se a coisa ficava preta, se vinham de caravolta se garantir no Rio Pardo. Mas terminaram arrasando Santa Tecla e São Martinho. E Rio Pardo, vitoriosa, foi nossa ‘Tranqueira Invicta’.
Este também é o Rio Grande, das minas de São Jerônimo, arrozais de Cachoeira, e da maria-fumaça fervendo em Santa Maria da Pedra Grande, em São Pedro, onde inscrições milenares vêm dos vikings, dos fenícios ou, quem sabe, daqui mesmo. E onde até o arvoredo - por tanto amor ao Rio Grande - vai se transformando em pedra... de tal durabilidade que há de ser, sempre, Rio Grande, com vigor de Eternidade!”
E é esta região que iremos apresentar um estudo sobre a imprensa local, que desde 1934 vem contando a história de seu cotidiano, através do jornal A Razão.

SANTA MARIA
Conta a lenda que uma tribo de índios Minuanos estabeleceu-se onde hoje é Santa Maria, local que chamavam Ibitory-Retani (terra da alegria). Certo dia, aproximaram-se da aldeia guerreiros brancos que foram vencidos pelos indígenas. Um dos prisioneiros foi alvo do amor da Imembuí, filha das águas. A índia, filha do cacique, disse ao pai que o amava e Morotin, como era chamado o branco Rodrigues, foi poupado e casou-se com Imembuí. Esta seria a história de Santa Maria, segundo a lenda.
A primeira referência escrita que se conhece sobre a região em que se assenta a cidade, pertence ao engenheiro e astrônomo José de Saldanha, que chegou ao local a 15 de abril de 1787 à frente de uma partida da Comissão Demarcadora de limites entre Espanha e Portugal. Essa comissão foi instituída pelo Tratado de Santo Ildefonso, em 1777. Saldanha acampou nas margens do Passo d’Areia onde hoje está o hipódromo e descreveu o local com o nome de Rincão de Santa Maria. No entanto, não fez a menor citação sobre a existência de índios ou brancos, como povoadores do local.
Em 1789 o território do município foi distribuído em sesmaria. Isso provocou desentendimento entre espanhóis e portugueses, pertencentes à Comissão Demarcadora de Limites. A segunda subdivisão comandada pelo coronel Francisco João Rócio, que se encontrava em Santo Ângelo, recebeu ordens para recolher-se à proteção da Guarda Portuguesa do Passo dos Ferreiros.
Acampando em novembro de 1797, num terreno da estância do padre Ambrósio José de Freitas, a subdivisão começou a formar o núcleo povoador da cidade. Por isso, a rua do Acampamento, tão falada e conhecida dos gaúchos, mantém esse nome até o presente, numa homenagem aos homens do coronel Rócio, que ali acamparam, mais ou menos onde hoje está localizada a Prefeitura Municipal.
Em 28 de julho de 1810 o Oratório do acampamento de Santa Maria da Boca do Monte era elevado à categoria de Curato. No entanto, somente quatro anos depois é que o padre Antônio Lopes tomou posse com Cura. Quando Cachoeira do Sul foi elevada à categoria de vila e posteriormente a município, em 26 de abril de 1819, Santa Maria da Boca do Monte passou a constituir-se no quarto distrito de Cachoeira, com dois subdistritos.
Mas Santa Maria crescia e a 16 de novembro de 1857 foi elevada à condição de Freguesia, para finalmente, em 17 de maio de 1858 chegar à categoria de cidade, com a emancipação política. Nesta data foi instalada sua primeira Câmara Municipal, presidida pelo coronel José Alves Valença.
Santa Maria já foi conhecida como Cidade Ferroviária e Coração do Rio Grande do Sul. Porém, a partir de 14 de dezembro de 1960, com a criação da Universidade Federal, em conseqüência do decreto lei nº 3834-C, Santa Maria passou a ser conhecida como o maior centro universitário do interior do país.
A criação da universidade deu-lhe logo a consciência de que se iniciava uma nova era no ensino superior brasileiro, especialmente porque do centro do Rio Grande do Sul deveria influir, relativa e racionalmente, no cenário nacional do ensino. Desde a fundação, a universidade vem mantendo os melhores resultados quanto à rentabilidade dos recursos humanos e materiais.
Faculdades particulares agregadas à UFSM juntamente com as Faculdades de Farmácia, Medicina, Odontologia e Engenharia e Arquitetura, então ligadas ao sistema federal de ensino, através da UFRGS, e mais tarde, as faculdades de Belas Artes, Veterinária e Agronomia passaram a formar o conjunto pioneiro na interiorização do ensino superior. Desta forma, Santa Maria passou a concorrer para o desenvolvimento sócio-econômico e educacional do Rio Grande do Sul, especialmente das regiões mais diretamente abrangidas pela zona de influência da Universidade, composta por 126 municípios, numa área total de 152.209 quilômetros quadrados e uma população de mais de três milhões de habitantes.
Conhecida como o Coração do Rio Grande, Santa Maria está localizada na região centro-oeste do Estado, entre a Serra Geral e a planície que forma a chamada Depressão Central. A 290 quilômetros de Porto Alegre, Santa Maria é uma cidade de fácil acesso. Tem ligação rodoviária direta com todos os principais pontos do Estado, desde a fronteira com Argentina e Uruguai à divisa com Santa Catarina.
A população da cidade é formada por 226.226 habitantes fixos e mais uma população flutuante de aproximadamente 20 mil pessoas, formada pelo contingente militar e estudantes que procuram o ensino de 2º grau e a formação universitária. É uma população ativa, que traz para a cidade culturas de todos os cantos do país. Além disso, Santa Maria oferece muitas atrações turísticas, como prédios históricos, eventos culturais, monumentos antigos e belezas naturais. Possui uma boa rede de restaurantes, bares, hotéis, além da maior concentração comercial do Rio Grande do Sul.
Apesar de ser pólo educacional, Santa Maria tem uma população de analfabetos estimada em 22.553 habitantes, cerca de 10% da comunidade. Sua renda per capita é de R$ 2.867,26 e o PIB é de US$ 626.935.000.

A Razão
O jornal A Razão foi fundado em Santa Maria em 1934, por Clarimundo Flores e outros políticos, com o objetivo maior de difundir as idéias de Oswaldo Aranha. A implantação do jornal foi financiada pelo Coronel Flodoaldo Silva, prestigioso estanceiro de Uruguaiana e um dos mais ardorosos defensores das idéias do eminente político alegretense.
Desde os primeiros momentos de seu surgimento, A Razão teve a melhor acolhida e apoio, não apenas da comunidade santa-mariense, como de vários municípios da região centro-oeste e da fronteira do Estado. Mais tarde, quando Assis Chateaubriand já incorporara aos Diários e Emissoras Associados o Diário de Notícias e a rádio Farroupilha, em Porto Alegre, A Razão passa a integrar a cadeia associada.
Os fenômenos sócio-econômicos e políticos foram evoluindo, ora em favor de uns, ora em detrimento de outros, e os veículos associados do Rio Grande do Sul foram sendo fechados.
A Razão, segundo tudo indica, teria o mesmo destino. Em fins de 1981, com sua credibilidade bastante abalada, sobretudo por problemas administrativos, o jornal se aproximou do fechamento. No entanto, em agosto de 1982 surge em Santa Maria uma nova razão social - a Empresa Jornalística De Grandi Ltda -, integrada por Luizinho De Grandi, Zaira Silveira De Grandi e Celito De Grandi. Esta empresa adquiriu dos Diários e Emissoras Associados o combalido acervo de A Razão e, ao final do seu primeiro ano de operações, já estava restaurada a credibilidade do jornal em toda a sua grande área de penetração.
Em 1995, o jornal vive uma nova fase, de dinamismo gráfico, agilidade de informação e de cobertura jornalística, de crescimento e aprimoramento editorial. Nessas mudanças, os empresários jornalísticos importaram um moderno equipamento de impressão offset, que permite ao jornal, além da melhoria na qualidade gráfica, maior agilidade, capaz de fazer, por exemplo, com que circule em Porto Alegre nas primeiras horas da manhã.
A informatização da empresa, com computadores de última geração, propiciou maiores e melhores recursos, inclusive com a interligação entre a sede e as sucursais .
A Razão é um jornal diário, que circula de terça-feira a sábado, tablóide (38 cm x 29 cm), com, em média, 30 páginas, impressão offset, uma cor (preto), com tiragem de 16.800 exemplares, sendo 12.800 assinaturas, 3.000 vendas avulsas e mil cortesias. O preço de capa é de R$ 0,80 e a assinatura anual R$ 108,00 .
O jornal é dividido em cinco colunas e o preço do cm/col da página indeterminada é comercializado a R$ 4,93. A tabela de preços é assim classificada:
CADERNO NORMAL (5 colunas)
Página Preço dia útil Preço sábado/domingo
Indeterminada R$ 4,93 R$ 5,69
Determinada R$ 6,23 R$ 7,03
Primeira página R$ 19,72 R$ 26,28
Terceira página R$ 13,53 R$ 15,96
Quinta página R$ 10,93 R$ 13,20
Sétima Página R$ 8,67 R$ 11,19
Nona página R$ 7,62 R$ 8,95
Última página R$ 9,84 R$ 11,74
Convites para enterros, missas, agradecimentos R$ 4,18 R$ 4,44
Publicações legais (editais,etc) R$ 5,50 R$ 6,87
Reportagens/Apedidos 30% a mais da página escolhida -
Página Social R$ 8,75 R$ 11,19
Segundo A.R. R$ 4,93 R$ 5,85
A.R. Repórter - R$ 5,85
Participações sociais R$ 4,23 R$ 4,93
CLASSIFICADOS
Econômico/balcão R$ 2,10 R$ 2,77
Destacado R$ 2,71 R$ 3,59
Negativo/Grisê R$ 3,13 R$ 4,01
Imobiliárias R$ 1,94 R$ 2,11

A equipe de produção do jornal é composta por nove jornalistas formados, 10 estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria e um jornalista prático, responsável pela editoria de Polícia. Os demais estão distribuídos nas diversas editorias do jornal e realizam as reportagens, textos, diagramação, fotografia e edição. Estes profissionais trabalham seis horas diárias na elaboração do jornal e ganham, em média, R$ 500,00 . Somente três jornalistas de A Razão são sindicalizados. A rotatividade destes profissionais é bastante baixa. A cada dois anos um jornalista deixa a empresa para trabalhar em outro jornal, fora de Santa Maria.
Os jornalistas de A Razão, ao contrário do que ocorre em outras regiões, participam de várias atividades educacionais que envolvem a área, em decorrência da intensa atividade da Faculdade de Jornalismo da UFSM. O jornal tem um Manual de Redação próprio, seguido pelos profissionais.
Para a produção do jornal, os jornalistas contam com computadores da linha Machintosh, fotoliteiras e impressoras rotativas, Goss Comunity, laboratório fotográfico e quatro veículos automotores, além de toda a infra-estrutura do prédio.
A Empresa Jornalística De Grandi Ltda. possui, ainda, além dos 20 jornalistas, 103 funcionários com vínculo empregatício, distribuídos entre os setores administrativo, industrial, comercial e circulação.
O jornal possui, em média, 250 anunciantes ao mês, provenientes de todos os segmentos da economia. Os anúncios públicos representam 10% da receita de A Razão.
A receita anual de A Razão é de US$ 928.000,00 e a despesa US$ 916.000,00.

CARACTERÍSTICAS DE A RAZÃO
Periodicidade Diário
Formato Tablóide (38 cm x 29 cm)
Número de páginas 30 (média)
Preço de capa R$ 0,80
Assinatura anual R$ 108,00
Número de colunas 5
Tiragem 16.800
Dia de circulação Terça-feira a sábado
Impressão Offset
Número de jornalistas formados 9
Número de funcionários 123
Preço do cm/col (página interna) R$ 4,93
Cor Preto e branco
Ano de Fundação 1934

Características do jornal em 2002
Poucas mudanças aconteceram no jornal A Razão, no que pese o lançamento de um novo jornal diário na cidade, pelo Grupo RBS, que entrou objetivando fazer concorrência direta com A Razão.
A principal mudança foi a impressão do diário em cores na capa, contracapa e central. A tiragem subiu de 16.800 para 18.000 a 20.000. A circulação passou a ser feita de segunda a sábado. O número de jornalistas formados subiu de 9 para 10 e de funcionários de 123 para 132. O preço do centímetro por coluna para comercialização de espaço publicitário subiu de R$ 4,93 para R$ 10,90.
Na produção do jornal também aconteceram algumas mudanças. O jornal não possui mais as editorias Nacional e Exterior e acrescentou a de Variedades. O restante continua igual.

Análise Editorial
O jornal A Razão possui editorias fixas de Opinião, Geral, Serviço, Estadual, Nacional, Exterior, Polícia, Esporte, Política e o Segundo Caderno. A grande maioria das edições contemplam o noticiário em 16 páginas, sendo o restante preenchido com o Segundo Caderno, Classificados e anúncios. A edição conjugada de sábado/domingo conta com 24 páginas de notícias.
Apesar de o jornal circular com 30 páginas, em média, e possuir uma receita mensal de R$ 77.000,00, o resultado jornalístico final não é muito diferente dos jornais semanários, bissemanários e trissemanários. A im-pressão do jornal não é boa. As páginas soltam muita tinta. As fotografias funcionam como ilustração, pois se trata de imagens paradas ou bonecos que ilustram os textos. O projeto gráfico e a editoração eletrônica não dão clareza na divisão dos assuntos e da publicidade (anexo 18).
Os títulos são diagramados com alinhamento à esquerda, sobrando brancos que dão a impressão de faltar um pedaço da matéria. Há, também, muita confusão na edição das notícias, que não obedecem a suas cartolas.
No entanto, a edição de todo o jornal mantém um padrão, mesmo que não qualificado. Na capa, as notícias locais são utilizadas para elaboração da manchete. Outros temas recebem tratamento secundário nas chamadas. Também é utilizado o texto-legenda e publicidade.
A editoria de Opinião é produzida com artigos de autoridades acadêmicas, políticas, econômicas e das demais áreas da sociedade. A charge faz parte dessa editoria.
A página 3 é destinada à Política, porém em 20 edições, apenas três vezes essa página apareceu com notícias. Em 27 edições ela circulou com anúncio de página inteira.
A cobertura da área Política é mais ampla do que jornais com outras periodicidades, abrangendo a movimentação política e de bastidores de todos os partidos políticos existentes em Santa Maria e na região. Contribui para essa editoria o articulista Affonso Ritter, com um artigo diário. As matérias também descrevem as discussões em torno de cargos políticos na região, filiações partidárias e convenções.
Na editoria “Geral” estão contidas todas as áreas, menos Esporte e Polícia. Assim, todos os fatos que envolvem Economia, Judiciário, Saúde, Política, Administração Pública, Câmara de Vereadores, Educação, Exército, Transporte, Informática, Religião, Agricultura e Pecuária, Ciência, Meio Ambiente, Comportamento, entre outros, estão nessa editoria. As matérias contêm entrevistas e descrições dos fatos. Raramente se observa a existência de investigação e da grande reportagem. As matérias também são descontextualizadas, não existindo preocupação histórica dos fatos. Destaca-se que predominam nessa editoria notícias que envolvem a Universidade Federal de Santa Maria em toda a sua amplitude.
Serviço é uma página onde são registrados os cursos e concursos no município. O Esporte recebe ampla cobertura, mas as matérias não passam de duas laudas. Entretanto, é constante a divulgação de chamadas dessa área na capa e na contracapa.
A editoria de “Polícia” praticamente não contempla as ocorrências policiais e os crimes. Os textos tratam da legislação criminal, atuação da Polícia Militar, Direitos Humanos, Sistema Carcerário, programas de humanização, Código Penal, paralisação de policiais e fatos dessa natureza.
A Agência Press (AP) sustenta a página de “Exterior” e a Agência Jornal do Brasil (AJB) é responsável pelo noticiário da página “Nacional”. A editoria “Estadual” é elaborada com notícias dos correspondentes de Santiago, Júlio de Castilhos, Alegrete e Jaguari, além de matérias da AJB que envolvem políticos gaúchos. Predominam nessa página notícias de Santiago, cidade vizinha de Santa Maria.
Cultura, lazer, horóscopo, coluna social, moda, tradicionalismo, clubes, programação televisiva, cinema, teatro e música fazem parte das quatro páginas que compõem o Segundo Caderno do jornal, também diário.
Mensalmente, A Razão edita cadernos especiais com diversos temas, entre eles, Saúde e Aeronáutica. Diariamente há o caderno de “Classificados”, com, no mínimo, quatro páginas.
Opinião dos leitores
Para 73,1% dos leitores de A Razão, o jornal pode ser definido como bom e muito bom. 12,5% entendem que ele é ruim e 11% o acham ótimo QUADRO 1).
O preço da assinatura anual do diário - R$ 108,00 - é alto para 34,6% dos assinantes. Mas 62,9% não acham cara a assinatura (QUADRO 2).
A quantidade de anúncios publicados pelo diário santa-mariense divide a opinião dos leitores. 21,2% acham muita publicidade; 34,6% julgam que não há exagero e 41,7% entendem que o jornal divulga a quantidade ideal (QUADRO 3).
Quase 40% dos assinantes manifestam que o jornal utiliza pouca fotografia em suas edições. 56,6% acham a quantidade satisfatória e 3,1% julgam ser muitas (QUADRO 4).
72% dos assinantes do diário de Santa Maria lêem ou assinam outros periódicos, e 26% lêem apenas A Razão. Os leitores assim se dividem: 37% assinam a Zero Hora; 30,7%, o Correio do Povo; 19,6%, a revista Veja. Outras publicações são lidas por menos de 6,2% dos leitores (QUADRO 5).
Quase 70% dos assinantes do jornal não conhecem os jornalistas que produzem A Razão. Raramente o jornal assina as matérias publicadas (QUADRO 6).
Grande número de assinantes de A Razão - 65% - entende que o jornal é parcial na divulgação da notícia. 30% julgam o diário imparcial. A maioria aponta parcialidade nas seguintes áreas: Política (19,6%), Noticiário Local (18,1%), Esporte (14%), Educação e Prefeitura (13,3% cada um), Polícia (12,5%), Saúde (11%), Economia (9,4%) e Lazer (7%) - QUADRO 7.
A predominância do noticiário local tem reflexo na opinião do leitor sobre a identificação da comunidade na leitura do diário. Apenas 10% não têm essa visão (QUADRO 8).
A edição conjugada de sábado/domingo é a melhor do jornal para 80% dos assinantes (QUADRO 9).
Seguindo uma tendência geral no Estado, a Coluna Social apresenta alto índice de rejeição por parte dos leitores. 34% entendem que esta seção poderia ser eliminada do jornal. 37% manteriam tudo como está (QUADRO 10).
Saber o que está acontecendo na cidade é a principal razão de o leitor de A Razão assinar o jornal, o mesmo ocorrendo com jornais de outras regiões e de diferentes periodicidades (QUADRO 11).
Também é o noticiário local que mais atrai o leitor de Santa Maria, ficando em segundo e terceiro lugares a Polícia e a Economia, respectivamente, porém com menos de 50% de indicações. Considerando isoladamente as indicações, (conforme se vê no QUADRO 12), a Coluna Social não tem mais que 8% da preferência de leitura, aparecendo em sétimo lugar se consideradas as indicações de preferência no primeiro, segundo e terceiro lugares (QUADRO12).
Apesar de a Educação ter 32% da preferência, quase 50% dos leitores pedem que este tema seja melhor divulgado, apesar de ele já ser prioritário na política editorial do jornal. Saúde é outro assunto que deve ser melhorado do ponto de vista dos leitores e, esse sim, não tem destaque nas páginas d’A Razão. O noticiário local é o que possui maior interesse dos leitores pela melhora do tema, com 53,5% de indicações (QUADRO 13).
Se, por um lado, quase 50% dos assinantes indicaram a área de Educação para ser melhorada e intensificada, por outro, 22% rejeitam a existência da mesma em uma página específica. Também é alto o índice de rejeição à publicação de assuntos ligados à Religião, mas 41% gostariam de ler sobre o assunto. Classificados têm o apoio de 80,3% dos leitores; Turismo, de 78,7%; e 66% querem a publicação de charges (QUADRO 14).

QUADROS

QUADRO 1
Que nota atribui à qualidade do jornal?
NOTA RESPOSTA (%)
Zero 0,78
1 -
2 12,5
3 38,5
4 34,6
5 11,0
Sem resposta 2,3


QUADRO 2
Você acha caro o preço da assinatura de seu jornal?
Opções Respostas (%)
Sim 34,6
Não 62,9
Sem resposta 2,3


QUADRO 3
Você acha que há muita publicidade e poucas matérias em seu jornal?
Opções Respostas (%)
Sim 21,2
Não 34,6
O desejado 41,7
Não respondeu 2,3


QUADRO 4
Seu jornal tem poucas ilustrações e fotos para as matérias divulgadas?
Opções Respostas (%)
Poucas 37,7
Satisfatórias 56,6
Muitas 3,1
Sem resposta 2,3


QUADRO 5
O que você lê ou assina?
Opções Respostas (%)
Zero Hora 37,0
Correio do Povo 30,7
Veja 19,6
Isto É 6,2
Superinteressante 6,2
Folha de S. Paulo 4,7
Caras 3,9
Exame 2,3


QUADRO 6
Você conhece os jornalistas que fazem seu jornal?
Opções Respostas (%)
Sim 26,7
Não 69,2
Não respondeu 2,3


QUADRO 7
Em que área de cobertura o jornal é parcial?
Opções Respostas (%)
Política 19,6
Noticiário local 18,1
Esporte 14,1
Educação 13,3
Prefeitura 13,3
Polícia 12,5
Saúde 11,0
Economia 9,4
Lazer 7,0


QUADRO 8
Você identifica sua comunidade na leitura do jornal?
Opções Respostas (%)
Sim 66,1
Não 10,2
Sem posicionamento 20,6


QUADRO 9
Em que dia da semana seu jornal está melhor?
Opções Respostas (%)
Sábado/Domingo 79,5
Terça-feira 1,5
Quarta-feira 3,9
Quinta-feira 6,2
Sexta-feira 3,1


QUADRO 10
O que você acha que poderia ser eliminado do jornal?
Opções Respostas (%)
Coluna Social 33,8
Título sensacionalista 18,1
Horóscopo 7,8
Publicidade na capa 7,8
Matéria sobre violência 6,2
Algumas crônicas 5,5
Artigos opinativos 3,9
Editorial 1,5
TUDO DEVE SER MANTIDO 37,0



QUADRO 11
Por que você assina A Razão?
OPÇÕES RESPOSTAS (%)
Para saber o que está acontecendo na cidade 63,7
Cobre bem as notícias da região 36,2
Representa e defende os interesses da comunidade 31,4
Atende as necessidades culturais e informativas 28,3
Proporciona conhecimento por meio de notícias educativas 17,3
Por tradição 14,1
Não há outra opção de leitura 6,2



QUADRO 12
Qual o assunto que você mais gosta de ler em seu jornal, indicando a ordem numérica crescente?
Assunto 1º lugar (%) 2º lugar (%) 3º lugar (%) TOTAL (%)
Noticiário local 28,3 19,6 11,8 59,8
Polícia 7,0 18,8 13,3 39,3
Economia 9,4 14,9 14,1 38,5
Política 14,1 12,5 7,8 34,6
Educação 6,2 9,4 16,5 32,2
Esporte 12,5 7,0 7,8 27,0
Coluna Social 7,8 4,7 5,5 18,0
Saúde 3,1 5,5 8,6 17,3
Lazer 7,0 3,9 3,9 14,9
Horóscopo 1,5 2,3 5,5 9,4
Classificados 1,5 - - 1,5


QUADRO 13
Na sua opinião, que assunto você gostaria que seu jornal divulgasse em maior qualidade e intensidade?
Assunto 1º lugar (%) 2º lugar (%) 3º lugar (%) TOTAL (%)
Noticiário local 21,2 14,9 17,3 53,5
Educação 13,3 18,1 17,3 48,8
Saúde 20,4 13,3 8,6 42,5
Política 10,2 10,2 8,6 29,1
Economia 11,8 8,6 7,8 28,3
Esporte 4,7 7,0 14,1 25,8
Polícia 11,0 7,0 4,7 22,8
Lazer 4,7 11,8 6,2 22,8
Coluna Social 3,1 2,3 1,5 7,0


QUADRO 14

Você gostaria que seu jornal publicasse uma página específica para assuntos relacionados a...

Temas
Respostas (%)
SIM NÃO NEUTRO
Saúde 78,7 5,5 13,3
Educação 51,9 22,0 23,6
Charges 66,1 10,1 21,1
Religião/Místico 40,9 29,1 29,0
Turismo 78,7 6,2 13,3
Classificados 80,3 4,7 11,0