quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Pesquisa desmente dados sobre a fundação de Alegrete

Pesquisa desmente dados
sobre a fundação de Alegrete

Beatriz Dornelles*
Homero Dornelles**

Antonio José de Vargas, dentre mais de uma centena de sesmeiros que povoaram o município de Alegrete (como está distribuído geograficamente nos dias atuais) foi quem doou para a comunidade as terras onde hoje se localiza parte da área urbana. A doação foi feita em 1814, quando menos de mil pessoas povoavam a região.
A partir da conquista das Missões, em 1801, portugueses começaram a se fixar na fronteira-oeste do Estado. Como Antonio José de Vargas participou dessa conquista, após a guerra requereu para a Coroa Portuguesa os campos de Alegrete. O pedido, devidamente documentado, diz o seguinte:
“Diz Antonio José de Vargas, morador na fronteira de Rio Pardo, que ele povoou um campo dos avançados na Guerra de 1801, na costa do Grapuitã (Ibirapuitã), como ma grande casa, currais, mangueiras, árvores de espinilho, muitas plantações e toda a sorte de animais, o qual o campo se divide pelo norte com uma sanga que desagua no rio Grapuitã; pelo sul, com um banhado que vai dar ao mesmo; pelo leste se divide com o mesmo rio, e pelo oeste com um galho do Capivari, o qual campo tem uma légua de largo e três de comprido, requer a Vossa Excelência lhe conceda a sesmaria na extensão que declara e estar há mais de oito anos na mansa e pacífica ordem. Porto Alegre, 12 de julho de 1814” (transcrito para o português atual).

No mesmo ano, a Coroa Portuguesa concedeu o pedido a Antonio José de Vargas. O campo referido pelo sesmeiro, estimado em uma légua e três de comprido por uma de largo equivale a uma sesmaria de campo ou 150 quadras de campo, o que na época equivalia a atual cidade de Alegrete mais um tanto de terra. Dentro dessas 150 quadras, recebida por Vargas, 25 quadras foram doadas para a comunidade.
Em 1834, por solicitação de Antonio José de Vargas e sua esposa, foi feita uma medição de terras com um de seus lindeiros – Manoel José de Carvalho. O Juiz Municipal de Alegrete determinou que as seguintes iniciativas fossem adotadas:
“Dizem Antonio José de Vargas e sua mulher que pelos documentos juntos mostram serem senhores e possuidores de uma fazenda de criar animais e de plantações, cita nos subúrbios dessa vila, da qual fazenda se lhe tirou o terreno necessário para erigir a vila, primeiramente capela, e para saberem os suplicantes que é seu, querem medir e demarcar o terreno compreendido dentro das divisas indicadas nos seus documentos para do dito terreno se tirar o que corresponde dessa vila, na conformidade do foral das sesmarias, ficando-se os marcos necessários na forma da lei, nos lugares respectivos, para conhecimento dos terrenos para logradouro da vila, citando-se para esse fim aos heréus confinantes, o Procurador da Câmara Vicente Soares Leiria, Manoel José de Carvalho e sua mulher, Antonio Neves e sua mulher e Agostinho d’Ornellas e sua mulher, todos residentes no termo dessa vila, nomeando Vossa Senhoria piloto e mais oficiais para a diligência na forma da lei e mandando proceder a todas as mais diligências necessárias. Alegrete, 03 de dezembro de 1834. Alexandre de Abreu Valle Machado, juiz municipal de Alegrete.


Com estes documentos aqui relatados1, comprova-se que a cidade de Alegrete originou-se de parte da sesmaria de Antonio José de Vargas, e não do Marechal José de Abreu, o Barão do Serro Largo, conforme garantiram alguns historiadores durante todo o século 20. Em breve, estes dados serão encaminhados, oficialmente, para Prefeitura de Alegrete e Câmara Municipal para que a discussão seja encerrada, com base na documentação existente. Desta forma, a cidade fica devendo, pelo menos, uma placa pública, em homenagem ao verdadeiro doador das terras da cidade de Alegrete, fazendo jus à história.

* Professora da PUCRS, jornalista e Doutora em Jornalismo pela USP. Autora do texto.
** Pesquisador e genealogista, acadêmico de História pela PUCRS. Responsável pela descoberta dos documentos históricos, sendo que cópias estão sob seu poder para encaminhamento ao Executivo e Legislativo de Alegrete.