Beatriz Dornelles
A missão de registro histórico, intrínseca a todos os jornais que circulam a qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo, é extremamente nobre, insubstituível e essencial para a memória de um país. Não fosse a imprensa, nada saberíamos sobre os movimentos comunitários de milhares de municípios, seus líderes, seus costumes, seu folclore, sua cultura, sua educação, sua economia, suas doenças, seus loucos, seus artistas etc. Tudo isto estaria perdido não fosse o trabalho diário dos jornalistas de colocar nas páginas dos jornais o movimento de uma cidade e de seu povo.
O Rio Grande do Sul tem uma data muito importante, comemorada por todos os gaúchos com muito garbo e orgulho: é o 20 de Setembro, que marca a Revolução Farroupilha. Para Alegrete, esta data tem sabor especial, pois a cidade foi a 3ª Capital da República Rio-Grandense, sede do Governo e da Assembléia Constituinte. E para satisfação histórica, a cidade também possui o mais antigo jornal de interior do Brasil, a Gazeta de Alegrete, que nasceu em 1882. Assim, ela pôde acompanhar todas as comemorações feitas por alegretenses em memória da Revolução Farroupilha.
Como seria impossível em um artigo jornalístico contar mais de 50 anos de história de comemoração do dia 20 de Setembro, o que começou em meados dos anos 50, do século passado, vamos relembrar o que a Gazeta de Alegrete registrou nos últimos 30 anos.
Em 1976, a comemoração do dia 20 é trágica. O palanque armado na Praça Getúlio Vargas, com capacidade para suportar 20 pessoas, recebeu 60 e desabou, resultando na morte de um menino de 11 anos, Airton Saldanha Mazzui, filho de João e Universina. Várias pessoas ficaram feridas.
Em 1981, desfilaram no dia 20 de setembro 11 Centros de Tradições Gaúchas de Alegrete. O desfile iniciou-se às 10h e premiou os peões e os piás melhores pilchados. Houve bailes de encerramento e o destaque foi de Ciro Vargas Paim, na época, patrão do CTG Aconchego dos Caranchos, por seu trabalho de preservação das origens. Naquele ano, novos piquetes se apresentaram, estando, entre eles, o Plínio Macedo.
No ano de comemoração do sesquicentenário da Revolução Farroupilha (1985), quando era prefeito de Alegrete Adão Dornelles Faraco, a cidade fez feriado. O prefeito baixou o seguinte decreto:
“Considerando que 20 de setembro constitui a data maior de nossa história, onde são comemoradas as grandiosidades dos feitos de nossos antepassados, substanciados nos ideais da República do Rio Grande, bem como o caráter permanente desses valores, que devem ser cultivados; que Alegrete foi a 3ª Capital da República Rio-grandense, sede do Governo e da Assembléia Constituinte e que igualmente, neste ano, comemora-se a singular data do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, levando em conta ainda a grandiosidade das comemorações com a efetiva participação do povo alegretense, decreto ponto facultativo no município de Alegrete, dia 20 de setembro, excetuando-se os serviços essenciais da Prefeitura”.
Em 1982, a Gazeta teve diversas edições especiais, pois comemorou seus 100 anos de existência. E prestou um duplo serviço histórico, resgatando a história do município nos 100 anos de sua existência. Sobre a imprensa, registra que Alegrete teve seu primeiro jornal em fins de setembro de 1842 e princípio de 1843, segundo o Almanack Rio-Grandense, de Alfredo Ferreira Rodrigues, de 1899. O primeiro jornal foi O Americano, criado em 1842; em 1843 surge o Estrela do Sul; em 1858, O Alegrete e O Alegretense; em 1863, aparece o Helicon e, em 1871, A Justiça e o Eco Alegretense; em 1876 funda-se o Jornal do Comércio. Em 1881 aparece O Século e, finalmente, para resistir até os tempos atuais, em 1882, é criada a Gazeta de Alegrete, do Partido Republicano. No mesmo ano, foi fundado O Porvir, do Partido Conservador. Até abril de 1981, foram lançados e fechados mais 39 jornais na cidade.
As comemorações da Semana Farroupilha, em 1982, contaram com bailes, churrascos, concursos de trovas no CTG Nico Dornelles e provas campeiras no CTG Farroupilha. Os bailes aconteceram nos CTGs Farroupilha, Aconchego dos Caranchos e no Vaqueanos da Fronteira. Também houve missa crioula, desfile e escolha de peão e piá mais bem pilchados, concurso que virou uma tradição nesta data. A primeira prenda foi Marilene Mendonça, do CTG Aconchego dos Caranchos. As comemorações encerraram-se com discurso do prefeito da época, Ernani Mota Antunes. Era governador do Estado Amaral de Souza.
Em 1988 o desfile do dia 20 foi coordenado por Eli Siqueira Simon e Marcial Estivalet Dorneles. A Semana Farroupilha prestou homenagem à raça negra pela contribuição ao Rio Grande do Sul. Dentro da programação desse ano, também se comemorou o 25º aniversário do CTG Amizade de Vasco Alves.
Nos anos 90, as comemorações começam a sofrer mudanças significativas, enriquecendo os desfiles. Em 1993, a Semana Farroupilha teve como tema “A Revolução Federalista de 1893”. O movimento tradicionalista de Alegrete buscou resgatar a história tida por abominada. Na época, Nilo Gonçalves era o prefeito da cidade. As comemorações incluíram torneio de truco, programa radiofônico nas emissoras locais, Hora de Arte, Tertúlia, canastra, bocha, chimarrão dançante, feira de artesanato, missa crioula, fandangos, churrasco e bailes. Catorze CTGs desfilaram no dia 20.
“150 Anos da Paz de Ponche Verde” foi o tema da Semana Farroupilha em 1995, enaltecendo os feitos do General José Antonio Flores da Cunha. Desfilaram cerca de cinco mil cavalarianos, coordenados por José Luiz Dockorn da Silva.
No ano 2000 o tema foi semelhante: “Inspirados em Ponche Verde construímos a paz no Rio Grande do Sul”. Houve chama crioula, bailes, concursos, churrascos etc. O itinerário da cavalgada foi da BR 290, passando pelo corredor do regalado, avenida Rondon, Avenida Assis Brasil, Avenida Dr. Lauro, rua Vasco Alves e Praça Getúlio Vargas.
Finalmente, em 2004, o desfile recebe um grande impulso. O governo do Estado, objetivando aproveitar o potencial turístico das comemorações no interior, desenvolvendo o turismo regional e interno, lançou o projeto de desfile temático. O tema desenvolvido foi em torno dos ideais farroupilhas: liberdade, igualdade e fraternidade. Alegrete realizou um desfile com arquibancadas, sonorização, espaço para imprensa, caracterização típica, camarote e carro temático. Oito mil cavalerianos desfilaram no dia 20 de setembro e puderam ser acompanhados pela Internet, através do site www.alegrete.rs.gov.br ou www.webalegrete.re.gov.br, o que deve se repetir neste ano.
Como se pode observar, a partir do registro dos acontecimentos, realizado pela Gazeta de Alegrete, temos condições de resgatar a história das comemorações do dia 20 de Setembro pela população alegretense nos últimos 50 anos.